Texto parcial de matéria publicada originalmente no jornal O Globo, em 15/06/2020.
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RIO — Presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo é acusado por funcionários de censurar biografias de personalidades históricas no site da autarquia, sobretudo as identificadas como ícones de movimentos sociais associados à esquerda.
Uma página com um mosaico com links para biografias de figuras históricas como Zumbi dos Palmares (que dá nome ao órgão e já foi alvo de vários ataques de seu presidente), o jornalista e abolicionista Luís Gama, o engenheiro André Rebouças e a escritora Carolina de Jesus não aparece mais no site.
Segundo reportagem da “Folha de São Paulo”, servidores da Palmares relataram, em condição de anonimato, que a orientação para censurar os textos partiu da presidência. O site da Fundação chegou a ser alvo da Justiça no dia 29 de maio, quando a juíza federal Maria Cândida Almeida, da 9ª Vara de Justiça do DF, determinou a retirada de artigos que desqualificam a figura de Zumbi dos Palmares. Os artigos em questão, “A narrativa mística de Zumbi dos Palmares”, de Mayalu Felix, e “Zumbi e a Consciência Negra – Existem de verdade?”, de Luiz Gustavo dos Santos Chrispino, foram publicados no dia 13 de maio, data da abolição da escravatura no Brasil.
O próprio Camargo é alvo de um pedido de tutela provisória de urgência no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para suspender sua nomeação, feito no dia 6 de junho, pela Defensoria Pública da União (DPU). No documento, o órgão solicita que os efeitos da decisão liminar da Justiça Federal do Ceará, que impediram a nomeação de Camargo em dezembro de 2019, sejam restabelecidos. A ação foi motivada pelo vazamento de um áudio gravado em uma reunião em abril no qual o jornalista classifica o movimento negro como “escória maldita”.
Camargo também se envolveu em uma briga pública com Alcione, a quem chamou de “barraqueira” pelo Twitter, após desabafo da cantora na live de Teresa Cristina, na noite em que os audios da reunião foram revelados. Alcione chamou Camargo de “Zé Ninguém da Fundação Palmares” e disse que “quando a gente vê uma pessoa da nossa cor falando uma besteira daquelas, tenho vontade de arrancar da televisão e encher de porrada pra virar gente”. Camargo escreveu desprezar as declarações de Alcione, “assim como sua insuportável ‘música’!”. Um vídeo em desagravo à cantora foi publicado dias depois, com a participação de grandes nomes da música brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Paulinho da Viola, Emicida e Maria Bethânia.
O presidente da Fundação Palmares é acusado por historiadores de tentar reescrever a trajetória de lutas dos negros e de alguns de seus heróis. O jornalista chegou a propôr no Twitter uma enquete para escolher um novo nome para o órgão, substituindo o de Zumbi.
Ainda segundo a reportagem da “Folha”, também foi retirada uma estátua de Zumbi da entrada da sede da Fundação, que estaria guardada em um depósito.
Procurada por meio de sua assessoria de comunicação, a autarquia não comentou as questões até o momento.
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Para ler a matéria na íntegra, acesse: https://br.noticias.yahoo.com/biografias-%C3%ADcones-movimento-negro-desaparecem-221156141.html
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Tem interesse no tema? Conheça os livros da Coleção Retratos do Brasil Negro, da Selo Negro Edições, que aborda a vida e a obra de figuras fundamentais da cultura, da política e da militância negra.
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ABDIAS NASCIMENTO
Retratos do Brasil Negro
Autora: Sandra Almada
Dramaturgo, ator, acadêmico, político, artista plástico, poeta. Abdias Nascimento pertence à elite dos grandes intelectuais engajados nas lutas libertárias dos negros em âmbito mundial – e também na difusão do pan-africanismo. Esta biografia recupera a vida e a obra de Abdias, resgatando as origens da combatividade desse militante respeitado nacional e internacionalmente, para quem o racismo é “a forma assumida pela opressão que mantém na miséria milhões de africanos e afrodescendentes”.
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CENTRO DE CULTURA E ARTE NEGRA – CECAN
Retratos do Brasil Negro
Autora: Joana Maria Ferreira da Silva
O volume 9 da Coleção Retratos do Brasil Negro aborda a trajetória dessa organização que atuou na capital de São Paulo e foi uma das primeiras entidades negras a trabalhar a ideia da negritude. Analisando suas duas principais fases, a autora mostra a origem da entidade, sua proposta de ação, o uso do teatro como instrumento de conscientização e de denúncia, e as atividades educacionais e culturais empreendidas por seus membros.
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CRUZ E SOUSA
Retratos do Brasil Negro
Autora: Paola Prandini
A biografia do poeta simbolista negro Cruz e Sousa, conhecido como o “Cisne Negro”, retrata a trajetória de um dos mais importantes escritores brasileiros. Resgatando momentos como a infância em Santa Catarina, a dedicação à literatura e a luta pela abolição da escravatura, o livro destaca sua produção como poeta vanguardista e traz dados sobre peças e filmes inspirados no autor.
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JOÃO CÂNDIDO
Retratos do Brasil Negro
Autor: Fernando Granato
Conhecido como “Almirante negro”, João Cândido Felisberto foi o líder da Revolta da Chibata, ocorrida no Rio de Janeiro em 1910. Figura importante na luta por melhores condições na Marinha, esse herói brasileiro só teve sua anistia concedida em 2008, 39 anos após sua morte. Fruto de ampla pesquisa, esta biografia mostra o lado humano de João Cândido, cuja vida foi marcada por tragédias, perseguições e miséria.
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LÉLIA GONZALEZ
Retratos do Brasil Negro
Autores: Alex Ratts, Flavia Rios
Obra que versa sobre a trajetória de vida, a produção intelectual e o ativismo político de uma das maiores lideranças do movimento negro brasileiro do século XX. Através da biografia de Gonzalez, os autores deixam entrever o processo de abertura democrática, revelando ainda a construção de identidade coletiva de segmentos excluídos da política nacional, notadamente os negros e as mulheres.
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LIMA BARRETO
Retratos do Brasil Negro
Autor: Cuti
Lima Barreto (1881-1922) é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Duramente rechaçado pelos críticos de sua época – por usar uma linguagem coloquial e criticar abertamente sociedade hipócrita e racista de então –, entrou para a galeria dos “malditos”. Autor de obras-primas como Triste fim de Policarpo Quaresma e Recordações do escrivão Isaías Caminha, produziu contos, crônicas, peças de teatro e diários. Vítima de preconceito por ser negro e pobre, só teve a obra reconhecida décadas após sua morte.
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LUIZ GAMA
Retratos do Brasil Negro
Autor: Luiz Carlos Santos
Não faríamos favor algum a Luiz Gama se o comparássemos a Zumbi dos Palmares na disposição de luta que teve contra a escravidão. Filho de uma guerreira negra, Luiza Mahin, e de um senhor de engenho, Gama é protagonista de uma das mais interessantes histórias de vida, que tem como pano de fundo a presença negra no Brasil.
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NEI LOPES
Retratos do Brasil Negro
Autor: Oswaldo Faustino
Poeta, compositor, sambista, pesquisador e escritor, Nei Lopes é, antes de tudo, um brasileiro comprometido com sua terra e com a cultura de seu povo. Sua vasta obra intelectual e musical – hoje superior a 35 publicações e a 300 composições, individuais ou em parceria – constitui um rico acervo de informações e ideias sobre a cultura afro-brasileira, além de refletir de maneira magistral a luta antirracista.
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SUELI CARNEIRO
Retratos do Brasil Negro
Autora: Rosane da Silva Borges
Este é o relato da trajetória de Sueli Carneiro, ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro. Feminista e intelectual, fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Sueli é uma das personalidades políticas mais instigantes da atualidade. Entender sua história de vida, suas influências e as mudanças concretas geradas por sua militância é compreender parte do cenário espacial, político e geográfico do movimento social negro contemporâneo.