Reportagem de Marcelo Testoni, publicada originalmente no VivaBem │UOL,
em 27/09/2022
Daqui a uma década, o total de pessoas com Alzheimer, doença que deteriora a cognição progressivamente, pode chegar a cerca de 75 milhões no mundo. Em 2050, a 139 milhões e o motivo é que os humanos têm vivido cada vez mais —e estão se cuidando? Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), indicam haver no Brasil 1,3 milhão de casos de Alzheimer.
O mais triste nisso tudo é que mais de 50% das pessoas com essa doença não são diagnosticadas. VivaBem, com o apoio de especialistas no tema, esclarece a seguir algumas das principais dúvidas que o cercam, desde fatores e sintomas a prevenção e tratamentos.
Esquecimentos indicam Alzheimer?
Parcialmente verdade. Entre as primeiras manifestações da doença aparece a perda de memória, de curto prazo, envolvendo acontecimentos recentes, compromissos, objetos, datas e nomes. Mas vale lembrar que o esquecimento também pode ser decorrente de cansaço, estresse, depressão, ansiedade, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), insônia, medicamentos e até covid-19. É importante procurar um profissional, que de início pode ser um clínico geral.
É uma doença só de idoso?
Mito. Embora o Alzheimer seja prevalente em idosos, tanto que a maioria dos casos é de início tardio, após os 65 anos, pessoas mais jovens também podem apresentar esse distúrbio. O Alzheimer precoce, assim chamado, é raro e surge entre os 40 e 50 anos, tipicamente relacionado a mutações genéticas hereditárias e confundido com doenças psiquiátricas.
Hereditariedade é a única causa?
Mito. Apesar de fatores genéticos poderem estar envolvidos, hipertensão, diabetes, alcoolismo, dislipidemia, tabagismo, depressão, menopausa cirúrgica e esclerose múltipla podem aumentar o risco de Alzheimer. Por isso, tratamentos devem ser estabelecidos e o quanto antes, para atenuar o risco de ocorrer comprometimento cognitivo na terceira idade.
Atinge mais as mulheres?
Verdade. A doença é duas vezes mais comum entre elas do que entre eles e, em comparação com o câncer de mama, tem o dobro de risco de ser desenvolvida. Entre as explicações está a expectativa de vida, que nas mulheres é mais longa, e a tendência é que continue a crescer. Indiretamente, também são mais acometidas, por serem as principais cuidadoras dos doentes.
A progressão é gradual?
Sim. A doença se desdobra aos poucos, ao longo de meses a anos, piorando a memória e outras múltiplas funções cognitivas, como raciocínio, capacidade de gerenciamento de tarefas, tomada de decisões, linguagem, reconhecimento visuoespacial, comportamentos e humor. Porém, essa progressão varia entre pacientes e pode se manter estável por alguns períodos.
É a mesma coisa que demência?
Não. O Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo e uma das causas de demência, a mais comum, equivalente a 60% a 80% dos diagnósticos. Outras causas de demência incluem doença vascular encefálica isquêmica ou hemorrágica (demência vascular), Corpos de Lewy, que são substâncias que degeneram os neurônios, e distúrbios que afetam os lobos frontal e temporal (demência frontotemporal).
Prejudica apenas o cérebro?
Mito. Apesar de a doença de Alzheimer causar diretamente uma deterioração cognitiva progressiva, os prejuízos desse “ataque” ao cérebro repercutem no organismo todo. Surgem dificuldades de fala, escrita, deglutição, coordenação motora, insônia, incontinência urinária, prisão de ventre, perda de peso, mal-estar e fadiga e, com isso, a vida muda completamente.
É uma doença incurável?
Verdade. Não há cura para Alzheimer, o declínio cognitivo é inevitável, mas existem medicamentos e medidas de segurança e suporte, usados para todas as demências. O paciente deve ser monitorado por uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogo, psiquiatra, geriatra, neurologista, nutricionista, psicólogo), fazer terapia ocupacional, fisioterapia e frequentar ambientes projetados de acordo com suas necessidades, alegres e familiares.
É possível atrasar sua evolução?
Sim. Com medicamentos específicos, é possível controlar sintomas, estabilizar o humor e as emoções, melhorar a função cognitiva e a memória e atrasar a evolução do Alzheimer. Somado a isso, é indicado o consumo de alimentos com ação antioxidante e protetora cerebral, ricos em vitaminas C, E e ômega-3, contidos em frutas cítricas, cereais integrais, sementes e peixes.
Praticar atividades não ajuda?
Mito. Pelo contrário, estimular o raciocínio e a cognição, por meio de leituras e atividades que estimulem o pensamento, são excelentes estratégias para se prevenir o Alzheimer. Inclua na lista: jogar quebra-cabeças, palavras cruzadas, estudar línguas, tocar instrumento musical, e acrescente aos treinos mentais praticar pelo menos 30 minutos de exercícios físicos diários.
Fontes: Júlio Barbosa, neurocirurgião e médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia); Natan Chehter, geriatra membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e da BP – A Beneficência Portuguesa (SP); Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); e Rodrigo Rizek Schultz, neurologista e presidente da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer).
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Autores: Judes Poirier, Serge Gauthier
MG EDITORES
Escrito em linguagem didática por dois dos maiores especialistas mundiais em Alzheimer, este livro, ricamente ilustrado, apresenta uma visão geral das últimas novidades médicas e científicas sobre os avanços recentes em pesquisa, as causas e os tratamentos da doença de Alzheimer, formas de prevenção que vêm sendo desenvolvidas e hábitos e estilos de vida que foram validados cientificamente e podem desacelerar ou impedir a progressão sintomática da doença.