Perceba o ambiente à sua volta. Sinta sua respiração, o ar entrando e saindo. Não tente controlar o ar, apenas o perceba. Quais são os seus pensamentos e sentimentos? Onde está sua mente? Concentre-se neste exato momento, no agora.

O mindfulness (“atenção plena”) é uma forma de meditação que pretende concentrar a atenção das pessoas no momento presente. A prática, normalmente usada para controle do estresse, começou a ser pesquisada com seriedade e utilizada até mesmo para combater dependências químicas e ajudar policiais militares a lidar com o tenso trabalho do dia a dia.

A aposentada Sonia Schaal, 61, após ter câncer de mama, desenvolveu um problema na coluna. Dor e preocupação com um possível retorno do tumor tiraram o sono dela. O jeito foi começar a tomar benzodiazepínicos, também conhecidos como calmantes ou ansiolíticos.

“É horrível usar remédio tarja preta. Eu tomava umas duas, três gotas por noite, todos os dias”, diz Sonia, que usou a droga por dois anos. “Você fica ‘sonado’, não consegue acordar direito e não tem a qualidade de sono que teria com o sono fisiológico.”

Sonia afirma que, por um período de tempo, mais especificamente um ano, foi dependente do remédio.

O cansaço – e um anúncio no jornal do bairro– levou a aposentada a um grupo que utilizava o mindfulness para ajudar mulheres a combater o uso de substâncias químicas.

“A ideia do programa era recrutar pessoas que faziam uso crônico desses medicamentos”, afirma Viviam Barros, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Uso de Substâncias da Unifesp.

Ela afirma que a maior parte desses remédios é prescrita. A recomendação, porém, é que o uso aconteça por, no máximo, quatro semanas.

As técnicas de mindfulness foram trabalhadas com as participantes em sessões semanais de duas horas, por oito semanas. Após isso, elas foram acompanhadas por mais 6 meses.

A pesquisadora afirma que as mulheres que desenvolveram a meditação conseguiram abandonar mais facilmente e com menos sofrimento os remédios. Além disso, elas também passaram a sofrer menos por terem insônia.

“Elas aprenderam a lidar com a insônia”, diz Viviam. Segundo ela, com a prática, as participantes do projeto aprenderam a perceber movimentos que a mente faz.

“Por exemplo, quando a pessoa vê que ela não está conseguindo dormir. Começam a surgir vários pensamentos. ‘Amanhã tenho que trabalhar, não vou conseguir trabalhar, estarei muito cansada.’ Isso vai aumentando o grau de ansiedade, o que intensifica ainda mais os pensamentos”, afirma Viviam, que nomeia o processo de “espiral ruminativa de pensamentos”.

Com o mindfulness, segundo a pesquisadora, as pessoas passam a reconhecer o que acontece em suas mentes sem necessariamente serem “carregadas” por isso.

“Vivemos no piloto automático”, diz Sonia. “Com o mindfulness a pessoa percebe como ela mesma funciona.”

TENSÃO DIÁRIA

Com base em experiências realizadas em outros países, foi iniciado também um projeto piloto de mindfulness para policiais em um batalhão da Polícia Militar de São Paulo.

“São pessoas que poderiam se beneficiar da técnica para lidar melhor com o stress e com as emoções. Ajuda a ter mais empatia”, diz Marcelo Demarzo, coordenador do Mente Aberta, centro de pesquisa ligado à Unifesp.

O tenente-coronel Marcio da Silva, um dos policiais a participar do projeto, diz que as meditações proporcionaram mais tranquilidade, calma e serenidade na vida profissional e na familiar.

Texto parcial de matéria de Phillippe Watanabe publicada na Folha de S. Paulo, em 11/02/2017. Para lê-la na íntegra, acesse:
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2017/02/1857820-meditacao-mindfulness-ajuda-de-policiais-a-dependentes-quimicos.shtml

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