Tendência entre os adeptos da coquetelaria, o gim ganhou sabor brasileiro com a adição de cítricos como tangerina e limão-cravo, além do puxuri e do pacová, especiarias amazônicas.
Esse é o diferencial oferecido pelos pequenos produtores nacionais, que disputam espaço com rótulos consagrados, vindos da Europa.
O mercado local está crescendo: entre 2011 e 2016, o valor movimentado na venda da bebida cresceu 29,8% no Brasil, segundo dados da consultoria Euromonitor.
Quem entra nessa área, em geral, já era consumidor do destilado, usado em drinques tradicionais como o gim tônica, o negroni e o dry martini.
A Amázzoni, que abriu as portas neste ano, surgiu durante encontros dos sócios para tomar a bebida. A primeira leva do gim foi feita para consumo próprio, em um alambique de cinco litros, conta o sócio Arturo Isola, 43.
O eslovaco Mike Simko, 35, da Arapuru, foi à Inglaterra consultar mestres destiladores para criar sua fórmula.
De volta ao Brasil, se associou à empresa júnior de uma faculdade de engenharia paulistana, que fez testes para viabilizar o produto.
“A ideia era encontrar uma solução criativa para diminuir o investimento inicial, de cerca de R$ 50 mil”, diz Simko. Neste primeiro ano, a empresa faturou R$ 650 mil.
Outra solução é dividir o alambique com mais empresas do ramo, como a Virga e a Draco, que compartilham o espaço com produtoras de cachaça artesanal em Pirassununga (a 211 quilômetros de São Paulo).
Para Juliana Brebert, consultora do Sebrae, o maior desafio é criar no país a cultura do gim, pouco difundida.
“É vital dar ao consumidor a oportunidade para experimentar, já que a maioria das pessoas nem o conhece”, diz.
Além de degustações e aulas de coquetelaria, vale buscar parcerias com bartenders para elaborar drinques e divulgá-los nas redes sociais.
“Dá para criar um gim tônica com cambuci ou outra fruta que complemente os aromas do destilado”, afirma Fernando Oliveira, especialista em bebidas do Centro Universitário Senac.
O publicitário Rodrigo Marcusso, 39, da Draco, usa seu bar em São Paulo como vitrine para divulgar o produto e aposta em alta na demanda.
“As pessoas têm pedido drinques menos adocicados, antes preferência do brasileiro, e o gim pode achar espaço com essa mudança de cultura”, afirma. Marcusso investiu R$ 500 mil para abrir a empresa, em junho de 2016.
Antes do lançamento, chamou amigos bartenders para testes cegos com gins estrangeiros, onde comparavam as bebidas e davam sugestões.
Esses empreendedores não têm interesse em competir com gins baratos, de produção industrial, mas encontrar espaço no segmento de bebidas “premium” -a maioria não sai por menos de R$ 100 e é vendida em empórios para as classes A e B.
Além de conquistar os brasileiros, algumas planejam crescer com a exportação até para países da Europa, onde a tradição do gim já é consolidada, e da Ásia.
A Virga, que produz 1.000 garrafas por mês, já começou a enviar caixas de gim brasileiro para países como Áustria e Cingapura.
“Usamos 15% de cachaça na composição da bebida, o que lhe dá um sabor inusitado, típico do Brasil”, afirma o sócio Felipe Januzzi, 31.
No Brasil, o mercado não deve crescer como o da cerveja artesanal, diz Brebert.
Isso porque já havia uma cultura de apreço à bebida, enquanto o gim é desconhecido do grande público.
A dica é mirar o amante da cachaça, já acostumado com o sabor forte do destilado.
Matéria de Anna Rangel, publicada originalmente na Folha de S. Paulo, em 04/09/2017. Para acessá-la na íntegra: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1915212-gins-nacionais-disputam-espaco-com-rotulos-vindos-da-europa.shtml
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