Artigo publicado originalmente na coluna de Claudia Collucci
na Folha de S. Paulo, em 28/02/2019.

Nesses momentos, é comum emprestarmos um pouco da dor do luto coletivo para chorar as nossas próprias

Um grande sentimento de luto coletivo permeia o país desde a última sexta (25), quando uma barragem da mineradora Vale se rompeu em Brumadinho (MG), deixando um rastro de destruição na vida de moradores da região.

Até a tarde desta segunda (28), 65 corpos haviam sido encontrados. Há ainda quase 300 desaparecidos. Essa é uma experiência na qual nos vemos juntos, próximos, identificados a partir dessas perdas.

“Mesmo não tendo relação direta com os afetados, estamos abalados. Outra vez a perda de vidas em massa? Por que temos de passar por isso novamente? Dá uma sensação de que não estamos sendo bem tratados”, diz a psicóloga Maria Helena Franco, especializada em luto.

Também há uma identificação com essas mortes porque tendemos a nos colocar naquela situação. Na internet, várias pessoas relataram passeios que fizeram na região de Brumadinho, especialmente ao Instituto Inhotim.

Alguns estiveram hospedados na Pousada Nova Estância Inn, destruída na tragédia. Hóspedes e funcionários do lugar não sobreviveram.

Nesses momentos, é comum emprestarmos um pouco da dor do luto coletivo para chorar as nossas próprias. Por que precisamos disso? Porque muitas vezes não nos permitimos sentir e viver nossas perdas quando elas acontecem.

Para quem viveu a tragédia na pele, o luto tem diferentes facetas. Há aquele pela perda de parentes, amigos e colegas, que pode ser intensificado pelo fato de muitos corpos ainda não terem sido encontrados. Fazer o funeral é uma etapa fundamental para começar a elaborar o luto.

“Na falta dos corpos, fica um luto não concretizado, que não se materializa na vida das pessoas. Abre lugar para uma expectativa, uma esperança de que a pessoa poderá ser encontrada viva. Fica um luto ambíguo, que não se configura como verdadeiro”, diz a psicóloga.

Segundo ela, uma forma de ajudar as famílias enlutadas seria a realização de cerimônias em que os nomes das vítimas sejam ditos. “Os familiares precisam ser chamados a participar para que tenham muito clara a realidade do que está acontecendo.”

Além disso, existe também a dor pela perda da segurança, da estabilidade, do chão que literalmente foi embora.

Ainda hoje, muitas das vítimas da tragédia de Mariana seguem enlutadas. No maior desastre ambiental do Brasil causado pela ruptura da barragem do Fundão, em 2015, 19 pessoas morreram e ecossistemas foram contaminados com o vazamento de rejeitos de minério.

Segundo estudo da UFMG, 82,9% das crianças e jovens que presenciaram o desastre têm sinais de transtorno de estresse pós-traumático. Nos adultos, 12% tiveram esse diagnóstico. Pesadelos recorrentes relacionados são relatados por 19,5% dos entrevistados. Um quarto apresenta insônia, 46,3%, irritabilidade ou crises de raiva. Foram ouvidas 276 vítimas.

Entre os jovens, 39,1% têm sinais de depressão e 26,1%  apresentaram comportamento suicida. Entre os adultos, o risco de suicídio foi identificado em 16,4% das pessoas.

Há um claro sofrimento social, um luto, como pano de fundo disso tudo. Os moradores perderam parentes e amigos, foram obrigados a deixar casas, objetos pessoais de forma abrupta. O pouco que sobrou foi saqueado.

Eles perderam a sensação de pertencimento, diz Franco. São pessoas que nasceram na zona rural e foram realocadas desde então para a cidade.

Cerca de 60% dos atingidos dizem sofrer preconceito de outros moradores, já que muitos perderam o emprego por causa da paralisação das atividades da mineradora Samarco desde a tragédia. Ficam revoltados ao verem as vítimas recebendo um valor mensal como forma de ressarcimento.

Nem as crianças são poupadas. Muitas sofrem bullying nas escolas, sendo chamadas, por exemplo, de pés-de-lama. Isso mostra que o potencial de destruição dessa lama toda é muito maior, vai além das mortes. Pode continuar matando, de forma figurada, também aqueles que sobreviveram a ela.

Para ler na íntegra, acesse (restrito a assinantes): https://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiacollucci/2019/01/luto-afeta-nao-so-familiares-mas-tambem-a-sociedade-que-sofre-junto.shtml

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A psicóloga Maria Helena Pereira Franco é autora de vários livros que abordam o luto, todos publicados pela Summus Editorial. Conheça abaixo algumas de suas obras:

 

A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM EMERGÊNCIAS
Fundamentos para a prática
Organizadora: Maria Helena Pereira Franco
Autores: Cristina Foloni Delduque da Costa, Karina Kunieda Polido, Julia Schmidt Maso, José Paulo da Fonseca, Isabela Garcia Rosa Hispagnol, Iara Boccato Alves, Gabriela Casellato, Ester Passos Affini, Eleonora Jabur, Lilian Godau dos Anjos Pereira Biasoto, Cristiane Corsini Prizanteli, Claudia Gregio Cukierman, Cibele Martins de Oliveira Marras, Ariana Oliveira, Ana Lucia Toledo, Adriana Silveira Cogo, Adriana Vilela Leite César, Viviane Cristina Torlai, Luciana Mazorra, Luiz Antonio Manzochi, Marcelo M. S. Gianini, Maria Angélica Ferreira Dias, Maria Helena Pereira Franco, Maria Inês Fernandez Rodriguez, Mariangela de Almeida, Priscila Diodato Torolho, Rachel Roso Righini, Reginandréa Gomes Vicente, Régis Siqueira Ramos, Samara Klug, Sandra Regina Borges dos Santos, Sandra Rodrigues de Oliveira, Suzana Padovan

Este livro reúne experiências e reflexões sobre um campo de atuação novo no Brasil: o atendimento psicológico a pessoas em situações de emergência e desastre. Diversos especialistas abordam a importância de cuidar dessas pessoas e os procedimentos e técnicas mais indicados em cada caso. A saúde mental do psicólogo e os efeitos do transtorno de estresse pós-traumático também são analisados.

 

FORMAÇÃO E ROMPIMENTO DE VÍNCULOS
O dilema das perdas na atualidade
Organizadora: Maria Helena Pereira Franco
Autores: Maria Cristina Lopes de Almeida Amazonas, Airle Miranda de Souza, Danielle do Socorro Castro Moura, Durval Luiz de Faria, Elizabeth Queiroz, Gabriela Golin, Geórgia Sibele Nogueira da Silva, Janari da Silva Pedroso, José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres, Maíra R. de Oliveira Negromonte, Vera Regina R. Ramires, Maria Helena Pereira Franco, Maria Julia Kovács, Maria Lucia C. de Mello e Silva, Maria Thereza de Alencar Lima, Roberta Albuquerque Ferreira, Rosane Mantilla de Souza, Silvia Pereira da Cruz Benetti, Soraia Schwan, Tereza Cristina C. Ferreira de Araújo

Este livro reúne grandes especialistas em formação e rompimento de vínculos. Entre os temas abordados estão os dilemas dos estudantes de medicina diante da morte, a questão das perdas em instituições de saúde, o atendimento ao enlutado, a morte no contexto escolar, as consequências psicológicas do abrigamento precoce, as possibilidades de intervenção com crianças deprimidas pela perda e a preservação dos vínculos na separação conjugal.

 

O RESGATE DA EMPATIA
Suporte psicológico ao luto não reconhecido
Organizadora: Gabriela Casellato
Autores: Valéria Tinoco, Sandra Rodrigues de Oliveira, Rosane Mantilla de Souza, Regina Szylit Bousso, Plínio de Almeida Maciel Jr, Maria Helena Pereira Franco, Gabriela Casellato, Déria de Oliveira, Daniela Reis e Silva, Cristiane Ferraz Prade, Ana Cristina Costa Figueiredo

O tema do luto não sancionado é pouco abordado na literatura clínica. Neste volume, profissionais da área de saúde preenchem essa lacuna tratando de temas como aborto espontâneo, infidelidade conjugal, aposentadoria, morte de animais de estimação, perda de familiares por suicídio e o luto de cuidadores profissionais. Estratégias para lidar com a perda e os transtornos psiquiátricos decorrentes dela também fazem parte da obra.

 

VIDA, MORTE E LUTO
Atualidades brasileiras
Organizadora: Karina Okajima Fukumitsu
Autores: Leo Pessini, Ana Catarina Tavares Loureiro, Avimar Ferreira Junior, Daniel Neves Forte, Daniela Achette, Elaine Gomes dos Reis Alves, Elaine Marques Hojaij, Elvira Maria Ventura Filipe, Emi Shimma, Fernanda Cristina Marquetti, Gabriela Casellato, Gilberto Safra, Gláucia Rezende Tavares, Karina Okajima Fukumitsu, Teresa Vera Gouvea, Marcello Ferretti Fanelli, Marcos Emanoel Pereira, Maria Carlota de Rezende Coelho, Maria Helena Pereira Franco, Maria Julia Kovács, Maria Luiza Faria Nassar de Oliveira, Mayra Luciana Gagliani, Monja Coen Roshi , Monja Heishin, Nely Aparecida Guernelli Nucci, Patrícia Carvalho Moreira, Pedro Morales Tolentino Leite, Protásio Lemos da Luz

Esta obra visa apresentar os principais cuidados e o manejo em situações-limite de adoecimento, suicídio e processo de luto, bem como reitera a visão de que, toda vez que falamos sobre a morte, precisamos também falar sobre a vida. Escrito por profissionais da saúde, este livro multidisciplinar atualiza os estudos sobre a morte, o morrer, a dor e o luto no Brasil. Destinado a psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais etc., aborda temas como: espiritualidade, finitude humana, medicina e cuidados paliativos; cuidados e intervenções para pacientes cardíacos, oncológicos e portadores de doença renal crônica; intervenção na crise suicida; pesquisas e práticas sobre luto no Brasil e no exterior; luto não autorizado; as redes de apoio aos enlutados; a tanatologia na pós-graduação.Esta obra visa apresentar os principais cuidados e o manejo em situações-limite de adoecimento, suicídio e processo de luto, bem como reitera a visão de que, toda vez que falamos sobre a morte, precisamos também falar sobre a vida. Escrito por profissionais da saúde, este livro multidisciplinar atualiza os estudos sobre a morte, o morrer, a dor e o luto no Brasil. Destinado a psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais etc., aborda temas como: espiritualidade, finitude humana, medicina e cuidados paliativos; cuidados e intervenções para pacientes cardíacos, oncológicos e portadores de doença renal crônica; intervenção na crise suicida; pesquisas e práticas sobre luto no Brasil e no exterior; luto não autorizado; as redes de apoio aos enlutados; a tanatologia na pós-graduação.

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