Texto parcial extraído do Blog da Sandra Caselato , publicado no UOL ECOA em 11/02/2020.

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Há 5 anos morreu, aos 80 anos, o psicólogo americano Marshall Rosenberg, criador da Comunicação Não-Violenta (CNV)

Ele dedicou sua vida a investigar as causas da violência e como reduzi-la. Desenvolveu a CNV com o intuito de apoiar a transformação de conflitos entre as pessoas e na sociedade, e disseminar habilidades necessárias para a construção da paz e um mundo mais justo.

Inspirou-se em grandes ícones como Martin Luther King Jr. e Gandhi, que mostraram na prática como a resistência não-violenta e a desobediência civil podem transformar realidades sociais opressoras, como a luta pelos Direitos Civis dos negros nos Estados Unidos e a independência da Índia do império Britânico, por exemplo. 

O trabalho de Marshall teve grande influência da Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers, um dos precursores da Psicologia Humanista, de quem foi aluno.

Também se inspirou na filosofia de educação de Paulo Freire, visando que prática da CNV possa alcançar mais pessoas de maneira democrática, participativa e contextual, incentivando ações autônomas e construtivas para afirmar e atender suas necessidades.

Segundo Marshall, a violência entre as pessoas e a violência social estão relacionadas e surgem a partir de um modo específico de pensar. Para ele, o pensamento que leva os pais a punir os filhos é o mesmo tipo de pensamento que leva os líderes mundiais a punir nações inteiras.

Segundo alguns teóricos e pesquisadores, essa visão de mundo teve início cerca de 8 mil anos atrás, quando do surgimento de um mito sobre a criação do mundo no qual o planeta e as pessoas são criadas a partir da destruição de uma deusa feminina do mal por um deus masculino virtuoso. 

Este mito traz uma imagem trágica de que os seres humanos são basicamente criados a partir de uma energia maligna e, portanto, precisam ser controlados e vigiados por seres mais elevados. Algumas poucas pessoas consideradas especiais, superiores e mais próximas dos deuses devem, então, controlar e vigiar os demais. Assim surge a ideia de culpa e crítica, punição e recompensa, e de um deus superior que avalia a todos. Quando as pessoas são consideradas boas elas são recompensadas indo para um lugar chamado céu e quando são julgadas más, são punidas e vão para o inferno. 

Este tipo de pensamento prevaleceu em muitas civilizações ao longo dos séculos e hoje se encontra em nossa subjetividade e nos diversos âmbitos de nossas sociedades ocidentais: nas famílias, escolas, empresas e demais instituições e sistemas que constituem nossa cultura. 

Os pais acreditam que são superiores aos filhos, os castigam quando julgam que são maus e os recompensam quando os consideram bonzinhos. O mesmo ocorre nas escolas, nas empresas e em nível nacional: os superiores controlam e vigiam os inferiores e têm o direito de julgar e culpar, além de dar ou não recompensas e sanções.  

O conceito de justiça neste paradigma é de uma justiça retributiva, punitiva. O tipo de linguagem também é uma linguagem que favorece o julgamento e culpabilização.

Neste paradigma, somos treinados culturalmente num modo de pensar específico, que procura identificar quem está certo e quem está errado, quem é bom e quem é mau. E é esse o tipo de pensamento que justifica a punição e a violência entre as pessoas e na sociedade. Quem ‘é mau’ e quem ‘está errado’ merece castigo e quem ‘é bom’ e ‘está certo’ merce recompensa.

Já as sociedades e culturas cujo mito fundante e cujo padrão de pensamento e de linguagem não se baseiam neste paradigma tendem a apresentar menos violência. 

Marshall percebeu, então, que existe uma maneira de nos relacionarmos que é totalmente diferente desta forma baseada em julgamentos, punição e recompensa: quando as pessoas conseguem se conectar com o que está vivo uma na outra, tendem a querer contribuir com o bem estar mútuo. 

Assim ele criou a Comunicação Não-Violenta (CNV), com o intuito de apoiar as pessoas a se conectarem de uma forma mais profunda e verdadeira, a partir de um outro paradigma. Segundo ele, a melhor maneira de fazer isso é nos conscientizarmos dos sentimentos e necessidades nossos e dos outros. Já que todos os seres humanos têm as mesmas necessidades e sentimentos, quando nos conectamos nesse nível conseguimos enxergar nossa unicidade além de nossas diferenças. Porém, como em nossa cultura e socialização desde crianças não estamos acostumados a nos conectar com nossos próprios sentimentos e necessidades nem das outras pessoas, a CNV vem nos apoiar neste aprendizado e prática. 

Desde o final da década de 60, quando começou a ser desenvolvida, a Comunicação Não-Violenta vem influenciando movimentos sociais, apoiando processos de mediação de conflitos e justiça restaurativa, sendo praticada em empresas, escolas, famílias, grupos diversos, processos terapêuticos e transformação de conflitos internacionais.


Para ler na íntegra, acesse: https://sandracaselato.blogosfera.uol.com.br/2020/02/11/a-comunicacao-nao-violenta-e-seu-criador/

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