O Grupo Editorial Summus conversou com Ana Lucia Coradazzi, médica oncologista e autora e organizadora de diversos livros da MG Editores, entre eles Cuidados paliativos — Diretrizes para melhores práticas, que foi tema da entrevista.

 

Na entrevista, a médica esclarece o que são cuidados paliativos, quando devem ser iniciados e quais os estereótipos acerca do tema.

Ana Lucia Coradazzi, autora da MG Editores

 

GRUPO SUMMUS: O que são cuidados paliativos?

ANA LUCIA CORADAZZI: São uma abordagem multiprofissional voltada ao alívio do sofrimento e à preservação da qualidade de vida de pacientes que estejam enfrentando situações de saúde graves, progressivas e que ameacem a continuidade da vida. Esses cuidados incluem as necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais dessas pessoas e também a assistência a seus familiares e amigos. O objetivo é que a equipe envolvida (em geral, formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, capelães, assistentes sociais e outros profissionais que se façam necessários) se mobilize para a obtenção da melhor qualidade de vida possível, por mais desafiadora que seja a situação do paciente. Isso é feito através de treinamento da equipe em comunicação, abordagem adequada de sintomas e acompanhamento contínuo e próximo das pessoas cuidadas.

 

GRUPO SUMMUS: Quando devem ser iniciados os cuidados paliativos a um paciente?

ANA LUCIA CORADAZZI: Em tese, assim que uma pessoa recebe um diagnóstico de uma condição grave e ameaçadora da vida, ela já tem indicação de receber cuidados paliativos, o mais precocemente possível. O encaminhamento precoce a uma equipe de paliativistas favorece os vínculos dessa pessoa com a equipe e permite que estratégias de prevenção do sofrimento sejam organizadas. No mundo real, no entanto, temos grande escassez de paliativistas no mercado e profissionais da saúde pouco familiarizados com as indicações de cuidados paliativos, o que, muitas vezes, resulta no encaminhamento dos pacientes já em sua fase final de vida. Cabe ressaltar que, nas fases mais precoces da doença, os cuidados paliativos não precisam ser necessariamente oferecidos por uma equipe completa e altamente especializada. Se a equipe responsável tiver um treinamento básico em cuidados paliativos (técnicas de comunicação e manejo dos sintomas mais corriqueiros, como dor, constipação intestinal, ansiedade), ela será capaz de oferecer o que muitos chamam de cuidados paliativos primários, de menor complexidade. O importante é não privar os pacientes dessa abordagem, ainda que de forma um pouco mais simples.

 

GRUPO SUMMUS: Qual o principal preconceito acerca do tema no Brasil? E o principal mito?

ANA LUCIA CORADAZZI: No Brasil, o principal preconceito ainda é a crença de que cuidados paliativos estão sempre relacionados à morte dos pacientes, tornando-se uma área de assistência que provoca medo e incertezas. Essa é uma grande falácia. Cuidados paliativos têm como prioridade a vida dos pacientes e o acolhimento de suas famílias. Muitos pacientes convivem com doenças incuráveis por anos, lidando com toda sorte de sofrimentos causados por elas, e podem se beneficiar muito da abordagem de paliativistas para melhorar sua vida, independentemente de quando sua morte acontecer. O principal mito ainda é a confusão acerca da prática da eutanásia. É comum que pacientes, familiares e até profissionais de saúde acreditem que cuidados paliativos estão ligados a essa prática, o que não é verdade. Pelo contrário: quando o paciente tem acesso ao alívio do seu sofrimento, ao resgate do significado da sua vida e à plenitude do seu legado, é provável que um eventual desejo de morrer (a eutanásia) desapareça.

 

Ana Lucia Coradazzi é médica oncologista clínica com atuação em cuidados paliativos, hoje responsável pelo serviço de Oncologia Clínica da Faculdade de Medicina de Botucatu — Unesp. Autora dos livros No final do corredor, O médico e o rio — Histórias, experiências e lições de vida, De mãos dadas — O olhar da slow medicine para o paciente oncológico e Pancadas na cabeça — As dificuldades na formação e na prática da medicina, organizadora do livro Cuidados paliativos — Diretrizes para melhores práticas e coautora de Quando a morte chega em casa.
Contato com a autora: https://linktr.ee/anacoradazzi.

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Tem interesse pelo assunto? Conheça o livro:

CUIDADOS PALIATIVOS
Diretrizes para melhores práticas
Organizadores: Ana Lucia Coradazzi, Marcella Tardeli Esteves Angioleti Santana e Ricardo Caponero
MG Editores

O conhecimento do ser humano evolui continuamente em todas as áreas. Na medicina, porém, o avanço de uma ampla gama de tecnologias voltadas para o prolongamento da vida – desejo primitivo dos seres humanos – deu lugar à tecnocracia. Esse movimento iludiu leigos (e muitos profissionais) e criou mitos, sobretudo o de que a morte poderia ser vencida. O problema é que essa obstinação terapêutica é hoje, muitas vezes, fonte de sofrimento – e paradoxalmente pode resultar no abreviamento do tempo de vida.Assim, é fundamental resgatar a qualidade do cuidar, não só do ponto de vista biológico, mas também mental e espiritual. Não se trata de abandonar o desenvolvimento tecnológico, mas de integrá-lo à visão plural de cuidado.Partindo desse pressuposto, esta obra – escrita por uma equipe multidisciplinar – se baseia numa prática integrativa, na qual todas as áreas de conhecimento trabalham juntas na busca da melhor qualidade de vida e da dignidade humana. Dividida em 16 capítulos, ela oferece protocolos seguros e eficazes que aliviam os principais sintomas dos pacientes que demandam atenção paliativa e traz uma série de opções de tratamento. Também são abordados temas como plano avançado de cuidados e diretivas antecipadas de vontade, além dos cuidados de fim de vida. Trata-se de uma referência fundamental num campo que está em franco desenvolvimento.

 

Conheça outros livros da autora:

De mãos dadas

O olhar da slow medicine para o paciente oncológico
Ana Lucia Coradazzi
R$74,70

De mãos dadas é um livro desafiador. Ao mesmo tempo que compreende os avanços tecnológicos no diagnóstico e tratamento do câncer, reconhece as perdas que tivemos no caminho, como a fragilidade das relações entre médicos e pacientes, a perda da autonomia destes e de seus familiares durante o processo da doença e os malefícios que o excesso de tecnologia pode causar no cenário oncológico. Partindo da teoria e da prática da slow medicine – abordagem clínica que procura resgatar a dignidade do paciente por meio de conceitos como tempo, individualização, autonomia, qualidade de vida, segurança em primeiro lugar e uso parcimonioso da tecnologia – a obra propõe caminhos para uma medicina mais sóbria, respeitosa e justa na área da oncologia. Além disso, os relatos de casos emocionantes e humanos, marca registrada da dra. Ana Coradazzi, impactam positivamente tanto os profissionais da saúde como aqueles que são cuidados por eles.

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Médico e o rio, O

Histórias, experiências e lições de vida
Ana Lucia Coradazzi
Lucas Cantadori
R$69,10

O médico e o rio é um livro de histórias reais. Mais que isso: é um livro sobre humanidade. O leitor encontrará aqui pessoas comuns cuja vida foi transformada pelo câncer e, de alguma maneira, precisaram reinventar seus caminhos, tornando única a sua existência. Alguns desses caminhos são de dor ou de mágoa; outros, de superação e coragem. Há resiliência e compaixão nestas páginas, assim como momentos de medo e de desesperança, gentileza e crueldade, generosidade e indiferença. Ao fim de cada relato, fica claro que todos vamos morrer da mesma forma que vivemos – tudo depende das escolhas que fazemos a cada dia.
Mas o que torna esta obra ainda mais especial são seus autores – ambos médicos dedicados aos cuidados paliativos – e seu olhar delicado e solidário para as forças e as fragilidades de seus pacientes. Ana e Lucas revelam, a cada parágrafo, a coragem de se envolver nessas histórias, participar delas plenamente e, por isso mesmo, aprender com cada passo. Ao se colocar como parceiros de seus pacientes durante a travessia do “rio” da vida, eles nos revelam o encantamento e a complexidade da natureza humana.

Pancadas na cabeça

As dificuldades na formação e na prática da medicina
Ana Lucia Coradazzi
Ricardo Caponero
R$62,80

A medicina é, sem dúvida, para os fortes. Os médicos precisam lidar desde muito cedo com angústias, controvérsias, desafios, incertezas. Seus sucessos e fracassos caminham de mãos dadas. Eles se envolvem em situações das quais a maior parte das pessoas fugiria, apavorada. Muitas vezes, cabe a eles executar o trabalho “sujo”. É também sobre eles que as maiores expectativas se depositam. Os médicos assumem sobre seus ombros responsabilidades que, em muitas culturas, são atribuídas a divindades. Este livro traz os percalços, as frustrações e os sofrimentos de seu dia a dia – tais como as dificuldades na formação do profissional de medicina, o primeiro contato com a morte, erro médico, entre outros –, além de discutir assuntos como a ética profissional e a relação médico-paciente e dar dicas a estudantes e jovens que pretendem ingressar nessa carreira. É assim, trocando experiências e expondo angústias, que as “pancadas na cabeça” tornam-se menos doloridas, mais fáceis de suportar.

Quando a morte chega em casa

Ana Lucia Coradazzi
Juliana Martins de Mattos Gonnelli
Karina Okajima Fukumitsu
e mais 10 autores
R$53,00

A morte, destino comum a todos os seres vivos, é tabu na cultura ocidental. Organizado por Teresa Vera de Sousa Gouvêa e Karina Okajima Fukumitsu, psicólogas especialistas em luto, este livro reúne treze relatos nos quais os autores compartilham, de maneira sensível e poética, experiências de vida em que a presença da morte lhes trouxe aprendizados transformadores. Entre os temas abordados estão: a morte súbita e a morte lenta; a morte em idade precoce e aquela em idade avançada; a perda de um pai e a perda de um filho; a morte esperada e aquela que interrompe planos; a morte desamparada e a morte acompanhada. De forma pungente e generosa, os autores desta obra mostram que é aprendendo a refletir e a conversar sobre a perda de quem amamos que nos abrimos à possibilidade de uma vida plena. Prefácio de Maria Julia Kovács.

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