Carolina Delboni é pedagoga, educadora e pesquisadora sobre o comportamento adolescente. Jornalista de formação, foi redatora-chefe da revista Pais&Filhos por cinco anos; em 2017, quando convidada pelo jornal O Estado de S. Paulo a ter um espaço digital em que pudesse ampliar o alcance de seus textos e análises, sentiu necessidade de dar início à sua especialização. Em 2023, Carolina publicou Desafios da adolescência na contemporaneidade (Summus). Com base na longa experiência da autora com esse público específico, nós a convidamos para uma breve entrevista, na qual ela explica de onde veio o interesse pelo estudo de adolescentes e aborda temas como limites, privacidade, bullying e cyberbullying.
– Como você se interessou pelo estudo específico do comportamento adolescente?
Eu já trabalhava com educação e, na aérea área da educação, infância e adolescência são temas constantes. Além de consultorias em escolas e instituições de educação infantil, fui editora-chefe da revista Pais&Filhos, onde escrevia muito sobre parentalidade. Em 2015, o Estadão me chamou para ter uma coluna digital no jornal, então eu comecei a buscar especializações em infância e adolescência. Com o passar do tempo, com as escritas, as pesquisas e os estudos, fui percebendo que pouquíssimos profissionais se dedicavam à adolescência e aos pais de adolescentes, e pouco se estudava também. Mais para frente, já na pandemia, a adolescência virou pauta constante para psicólogos e psiquiatras por conta dos inúmeros problemas com saúde mental que explodiram, e foi aí que eu voltei meu trabalho 100% a essa faixa etária. Percebi que existia uma dor no adolescente, que ninguém via. A sociedade, de maneira geral, faz muitas críticas aos adolescentes, e isso vai criando barreiras na relação, além de uma série de dificuldades de inserção do próprio adolescente em sociedade. Acho que me solidarizei com as dores da adolescência e, como acredito em uma relação muito mais gentil e afetuosa, direcionei todo o meu esforço para levar informação a pais, mães e sociedade. Acredito que informação forma as pessoas.
– Como impor limites ao adolescente e acompanhar seu desenvolvimento sem desrespeitar sua privacidade?
Você só vai conseguir impor limites a um adolescente se antes tiver construído a relação. Isso significa que antes de querer mandar no adolescente, dizer o que ele pode ou não pode fazer, você precisa ter entendido que seu filho não é mais uma criança pequena que obedece aos pais sem nenhum questionamento. Precisa entender também que os questionamentos não são uma afronta a você, são sinais de que seu filho está em busca do que ele pensa, do que ele acha e quer e não mais do que os pais dele acham para ele. Tem que entender que o filho cresceu e que as opiniões dele, as argumentações dele, precisam ser levadas em conta e respeitadas. A partir daí, é possível estabelecer um novo diálogo e, então sim, colocar alguns limites. Mas eu sempre digo: escolha suas batalhas. Com adolescente, a gente faz combinados e, para que eles sejam cumpridos, é preciso escolher as batalhas. Pense: do que você realmente não abre mão? O que para você é inegociável? Procure ajudá-lo a entender esse contexto para que ele entenda o limite que não pode ser ultrapassado.
– Que iniciativas os pais devem tomar quando percebem que o filho pode estar sendo alvo de bullying ou cyberbullying?
Buscar ajuda de um profissional especialista. Falar com a escola. Ler, buscar informação, buscar entender e escutar tudo e todos para compreender onde está a pontinha do fio que deu início a essa violência. É preciso também entender que bullying não é como a “zoeira” que existia na nossa época, porque hoje em dia isso tem um alcance gigantesco com as redes sociais. O adolescente é bombardeado 24 horas por dia em grupos de WhatsApp e outras redes sociais, então a agressão verbal e psicológica perdura por todo o tempo; é isso que faz com que, muitas vezes, o adolescente não dê conta e entre em sofrimento. Ele precisa de ajuda para sair desse lugar (o que não significa, necessariamente, mudar de escola) e para ressignificar as agressões sofridas, para que isso não respingue em novas amizades e novos círculos sociais. Basicamente, a primeira ajuda que os pais podem dar é apoio. Eles precisam acreditar no que o filho está contanto e não podem minimizar os sentimentos do adolescente, porque é aqui que a maioria das situações que seriam contornáveis explode. Para o adolescente, a dor é muito grande e precisa ser tratada com essa dimensão.
Conheça a obra da autora publicada pela Summus:
Desafios da adolescência na contemporaneidade
Uma conversa com pais e educadores
R$58,40Este livro reúne textos da pedagoga e jornalista Carolina Delboni. Colunista do jornal O Estado de São Paulo, ela passou os últimos dez anos observando e estudando a adolescência. A obra está dividida em quatro partes. Na primeira, a autora convida o leitor a se desfazer dos clichês ligados a essa faixa etária e a estabelecer com ela um diálogo possível. Em seguida, analisa a interface entre adolescência e educação, tanto a que acontece dentro de casa quanto a escolar, discutindo temas como gênero, sexualidade, violência e os transtornos mentais que, cada vez mais, atingem nossos jovens. A terceira parte do livro enfoca as relações sociais dos adolescentes e abarca assuntos como cyberbullying, masculinidade tóxica e gravidez precoce. Na parte 4, Carolina debate as sequelas que a covid-19 deixou nessa geração. Obra fundamental para pais, educadores, psicólogos, médicos e todos aqueles que convivem com adolescentes. Prefácio de Rosely Sayão. Livro finalista do Prêmio Jabuti 2024.
Assista em nosso canal do YouTube ao vídeo ‘Carolina Delboni responde a dúvidas sobre adolescentes‘, produzido especialmente para a Summus Editorial: https://youtu.be/FS-f-_IDCmI