Celebrado como feriado nacional pela primeira vez em 2024, 20 de Novembro,  Dia Nacional da Consciência Negra, foi instituído oficialmente pela lei n. 12.519, de novembro de 2011, e faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares, assassinado em 1695. Há anos o mês de novembro tem se tornado referência para atividades que inspiram o enfrentamento ao racismo arraigado em nossa sociedade, além de celebrar a cultura e a identidade negras e refletir sobre os avanços e os desafios para a construção de um futuro mais justo para todos.

Para celebrar este mês, trazemos uma entrevista exclusiva com o sociólogo e antropólogo Dagoberto José Fonseca, autor de diversos livros da Selo Negro Edições e coordenador da coleção “África, presente! Negritude e luta antirracista”. Confira a seguir.

 

– O aportuguesamento de nomes africanos é uma pauta que voltou ao foco durante o mês de setembro por conta do casal que teve de entrar com processo na justiça para poder nomear o filho de Piiê, em homenagem a um dos faraós egípcios. Como você enxerga o ato do TJMG de classificar esse nome como um instrumento para bullying ao negar, de início, esse direito aos pais?

Considero que esse é um problema de uma sociedade que nega os nomes dos povos que estão presentes — não de todos os povos, apenas de alguns, pois aceitamos nomes na língua inglesa, na língua japonesa, na língua espanhola, na língua indígena, porém às pessoas de origem africana são colocados obstáculos para nominarmos alguém, geralmente uma pessoa querida, nosso filho ou filha. Portanto, o Brasil atual, com essas práticas ainda, revela não só a sua herança escravista, ao retirar os nomes das pessoas e de suas culturas e histórias, mas, ao fazer isso, também revela que atitudes e procedimentos oriundos do passado são cometidos por pessoas que têm no escravismo e na retirada de direitos uma base de conduta criminosa, porém carregada de vestígios ou roupagens de legalidade.

 

– Quais foram, resumidamente, as principais atualizações e inovações que você trouxe na edição revista e atualizada do livro Políticas públicas e ações afirmativas em relação à versão de 2009?

Eu trouxe a atualização de dados, de informações, de documentos, mas o principal, nesta edição, foi que, a partir dessa revisão e com as informações novas, pudemos articular uma releitura das políticas públicas a fim de abordarmos as ações afirmativas de maneira mais adequada, complexa e problematizadora. Esse processo também me possibilitou escrever outro livro, a ser publicado pela Selo Negro, onde consegui trazer a reflexão, os apontamentos e a escrita sobre esse tema até o momento presente, a fim de avaliar o conjunto de políticas públicas e de ações afirmativas até o primeiro ano do governo Lula. Esse novo livro, que nasceu do primeiro, é intitulado Movimento negro vencedor — Estimulador de identidades e elaborador de políticas públicas.

 

– Para você, qual a importância e o alcance da reinterpretação histórica que está ocorrendo atualmente — em seriados, filmes e livros recém-lançados — e do aumento do protagonismo não branco na luta contra o embranquecimento cultural?

Eu considero que esse momento é parte de uma ação concreta e da vitória do movimento negro, como já aponto e demonstro nesse outro livro, especialmente porque as pautas e a agenda, da virada do século 21 até hoje, carregam um conjunto de ações que vieram do acúmulo de reivindicações e de demonstrações da força, da capacidade de organização e de trabalho dos movimentos sociais de modo geral, mas especialmente de membros do movimento negro presentes em diferentes espaços da vida social brasileira, inclusive nas universidades e nos demais territórios da vida política nacional, seja nos partidos ou nos órgãos do Estado.

 

Conheça abaixo as obras da coleção Africa, presente! Negritude e luta antirracista, coordenada por Dagoberto José Fonseca.

Racismos

Antonio Carlos Lopes Petean
Dagoberto José Fonseca
Denize Ornelas Pereira Salvador de Oliveira
e mais 11 autores
R$84,40

Reunindo estudiosos de distintas áreas de atuação, este volume aponta os racismos como crimes que foram e são cometidos, desde sempre, de maneira nada ingênua e descomprometida. O racismo é sistêmico, processual, e seus tentáculos são vários, sustentados por ideias, visões de mundo e teses que advêm de diversos segmentos ou áreas do saber — teologia, filosofia, política, economia, tecnologia, sociologia, medicina, direito, linguística e antropologia. Entender essa base pseudocientífica de longa data nos dá a condição de analisar, interpretar e explicar o presente momento das relações étnico-raciais não só no Brasil como também em outras regiões do mundo.

 


Mulher negra e ancestralidade

Ana Piedade Armindo Monteiro
Delcirene Videira da Silva
Josildeth Gomes Consorte
e mais 6 autores
R$84,40

Sem esquecer a luta cotidiana e as adversidades que marcam a vida atual das mulheres negras, as autoras deste volume vão buscar na ancestralidade a base para a construção de um futuro permeado de conhecimento, arte, cuidado e justiça social. Assim, apelando para a força de mães de outrora, baseiam suas reflexões em um passado esquecido que, ao se revelar, mostra extrema potência transformadora. Entre os temas abordados neste volume estão: práticas ancestrais ligadas à figura feminina em Moçambique; a resistência aos casamentos prematuros naquele mesmo país; as diferenças entre mulheres negras (brasileiras e africanas) e mulheres eurocentradas; a sabedoria das moradoras do Recôncavo Baiano que exercem as profissões de costureiras e vendedoras de acarajé; a educação nos terreiros de candomblé, assentada em valores éticos ancestrais; a trajetória de professoras alfabetizadoras na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental; as lutas das mulheres negras no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e no continente africano; as mulheres amazônicas que atuam como “servas e empregadas” do Divino Espírito Santo de Mazagão Velho, no Amapá.

A coleção África, presente! Negritude e luta antirracista constitui um espaço de produção e divulgação do pensamento não hegemônico acerca de africanos, afro-brasileiros e indígenas. Seu objetivo é problematizar e contestar cientificamente paradigmas, falácias e metodologias euro-ocidentais.

 


Mentiras do ocidente, As

Alexandre de Lourdes Laudino
Bas’Ilele Malomalo
Dagoberto José Fonseca
e mais 7 autores
R$84,40

Durante séculos, o eurocentrismo científico ajudou a construir uma história baseada em mentiras. Tais mentiras fomentaram — e ainda fomentam — o racismo, a xenofobia, a misoginia e a morte de inúmeros grupos e povos, sobretudo na África e na América. A fim de restituir a verdade, a presente obra aponta novos caminhos teórico-metodológicos que partem da história real do continente africano e da diáspora de sua população. Entre os temas abordados estão: a vida e a obra de Ptahhotep, um dos grandes filósofos do Reino Antigo do Kemet (atual Egito); as falsas narrativas produzidas pelo pensamento euro-ocidental; a formação da democracia nas diversas nações da África; os conceitos de unidade e diversidade cultural africana; a afroperspectiva como método e teoria; o impacto do escravismo e do colonialismo na África; a interface entre arte e loucura nos rituais de cura do povo dogon (Mali); as lutas dos povos indígenas por seus territórios ancestrais.

A coleção África, presente! Negritude e luta antirracista constitui um espaço de produção e divulgação do pensamento não hegemônico acerca de africanos, afro-brasileiros e indígenas. Seu objetivo é problematizar e contestar cientificamente paradigmas, falácias e metodologias euro-ocidentais.

Para ver todas as obras da qual Dagoberto é autor, acesse: https://www.gruposummus.com.br/autor/dagoberto-jose-fonseca/

 

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