Neste mês em que abordamos a psicologia, vasta e importante área de nosso catálogo, temos a honra de contar com uma entrevista da psicóloga Maria Helena Pereira Franco, nossa autora e uma das maiores especialistas em luto do Brasil, que nos traz um panorama do tema no país nos últimos anos.

 

– Você explica como o pluralismo cultural e religioso ajudou a criar os mais diversos rituais brasileiros ligados ao luto, o que originou uma experiência heterogênea. Quando ocorrem tragédias, como o aniquilamento dos ianomâmis e as chuvas do Rio Grande do Sul, que tiveram repercussão e mobilização enormes em todo o país, você vê uma homogeneização temporária do luto para aqueles que estão acompanhando tais tragédias? Esses lutos seriam coletivos ou públicos?

Entendo que a vivência do luto sempre se dará a partir de referências do indivíduo e/ou de uma comunidade. Refiro-me aos significados expressos em ações, por exemplo, reunir-se, erigir monumentos, conectar-se com um ser superior, cantar, dançar, comer. Portanto, quando nós, brasileiros, nos enlutamos pelos ianomâmis ou pelos gaúchos, fazemos isso a partir de como entendemos nosso luto e nossa maneira de expressá-lo. Há coincidências, mas não digo que haja homogeneização. Estão presentes significados para vida e morte, para o que aquele grupo afetado representa para cada um. O luto coletivo é mais do que a soma de um grande número de pessoas, ele requer um senso de pertencimento, para que aquele coletivo me represente e para que eu me identifique com ele. Posso viver coletivamente um luto no âmbito público e também no privado. O luto público é aquele que é manifesto, que é expresso, para além da minha experiência privada. Pode ser coletivo ou individual.

 

Em seu livro você diz que foram necessários um aprendizado e uma adaptação rápidos quando a pandemia foi decretada, tanto para terapeutas quanto para os pacientes. O cuidar também acabou se modificando, já que a formação de uma rede de apoio foi dificultada pelo isolamento social. Passados quatro anos do início da pandemia, você vê uma mudança significativa no enfrentamento do luto, influenciada pelo que passamos?

Viver um luto se tornou mais visível e até mesmo mais aceito e compreensível. Não houve quem não tivesse vivido um luto no período de 2020 a 2022. Foram lutos vividos isoladamente, ou que se beneficiaram de recursos tecnológicos em substituição aos encontros habituais da cultura, impossibilitados pelas restrições sanitárias. Entendo que fazer valer as formas possíveis de realizar os rituais, de criar cerimônias de despedida ou de reencontro e de percorrer um processo de luto marcado pelo medo e pelo desconhecido tenha sido mesmo um avanço na maneira de vivenciar o processo, por ter aproximado a experiência do luto daquilo que era vivido na época da pandemia. Digo que foi um avanço porque possibilitou que as pessoas compreendessem o luto como inerente à vida de todos, pela irretocável ligação com os vínculos estabelecidos.

 

– Seu livro é uma das obras mais completas sobre luto já publicadas. Sabemos que, no início das pesquisas, o tema era um grande tabu. O que mudou ao longo das últimas três décadas, tanto na área acadêmica quanto na clínica e entre o público geral? Hoje é mais fácil falar sobre o assunto?

Pude mesmo observar o crescimento do interesse por publicações sobre luto, tanto as científicas como aquelas de relatos de experiência. Também é evidente o interesse pelo tema, que tem sido focalizado pela mídia em suas diferentes formas, bem como nas redes sociais. Como ocorre com um crescimento acelerado, há situações nas quais a qualidade da comunicação ou do conteúdo fica a desejar, banalizando a experiência do luto. Mesmo assim, entendo que há avanços no sentido de tornar o tema mais acessível para que as pessoas não se intimidem de falar a respeito, inclusive ampliando o foco para profissionais de diferentes áreas de atuação.

 

A Summus Editorial e a Editora Ágora têm em seu catálogo diversas obras sobre o tema, entre elas várias de autoria, coautora e/ou organização de Maria Helena Pereira Franco. Conheça algumas abaixo.

Luto no século 21, O

Uma compreensão abrangente do fenômeno
Maria Helena Pereira Franco
R$81,20

Maior especialista em luto do Brasil e pioneira no tema em nosso país, Maria Helena Pereira Franco reúne aqui décadas de experiência no atendimento a pessoas enlutadas e na formação de profissionais que atuam nesse campo. Mais que isso, oferece um amplo panorama a respeito das teorias e pesquisas sobre luto, sempre se valendo do rigor científico e de uma visão peculiar desse processo, que integra aspectos psíquicos, sociais, cognitivos, espirituais e físicos. Tomando por base a teoria do apego, de Bowlby, a autora aborda, entre outros temas, os diversos tipos de luto, seus fatores predisponentes, recursos para o diagnóstico e modos de intervenção terapêutica. Obra fundamental para estudantes e profissionais de Psicologia, Tanatologia, Medicina, Enfermagem e Serviço Social.

Intervenção psicológica em emergências, A

Fundamentos para a prática
Adriana Silveira Cogo
Adriana Vilela Leite César
Ana Lucia Toledo
e mais 30 autores
R$115,70

Este livro reúne experiências e reflexões sobre um campo de atuação novo no Brasil: o atendimento psicológico a pessoas em situações de emergência e desastre. Diversos especialistas abordam a importância de cuidar dessas pessoas e os procedimentos e técnicas mais indicados em cada caso. A saúde mental do psicólogo e os efeitos do transtorno de estresse pós-traumático também são analisados.

Formação e rompimento de vínculos

O dilema das perdas na atualidade
Airle Miranda de Souza
Danielle do Socorro Castro Moura
Durval Luiz de Faria
e mais 17 autores
R$103,90

Este livro reúne grandes especialistas em formação e rompimento de vínculos. Entre os temas abordados estão os dilemas dos estudantes de medicina diante da morte, a questão das perdas em instituições de saúde, o atendimento ao enlutado, a morte no contexto escolar, as consequências psicológicas do abrigamento precoce, as possibilidades de intervenção com crianças deprimidas pela perda e a preservação dos vínculos na separação conjugal.

 

Para ver todas, acesse: https://www.gruposummus.com.br/autor/maria-helena-pereira-franco/

 

 

 

 

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