Texto parcial de matéria de Jessica Bernardo, publicado originalmente em UOL Eleições, em 26/07/2022

 

Os candidatos à Presidência da República já começaram a lançar seus primeiros jingles, embora a campanha na TV e no rádio ainda nem tenha começado. Eles têm apostado em ritmos populares, como o forró e o sertanejo, para se aproximar dos eleitores e garantir aquela fórmula “chiclete” nos corações e mentes.

A campanha oficial na TV e no rádio começa no dia 26 de agosto, mas nas redes sociais os vídeos com os jingles já circulam a todo o vapor, com milhares de visualizações em plataformas como YouTube, Twitter e TikTok.

 

Lula: Do Lula Lá ao forró ‘piseiro’

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já encampou duas músicas nas redes sociais durante sua pré-candidatura. A primeira, uma releitura do jingle “Lula Lá”, que ficou famoso durante as eleições de 1989, foi anunciada em maio, durante o lançamento da pré-candidatura do petista. O clipe teve participações de nomes como Maria Rita, Pabllo Vittar e Duda Beat e tem mais de 570 mil visualizações no YouTube.

Dois meses depois do primeiro jingle, a conta oficial de Lula no TikTok lançou uma nova música, dessa vez um forró piseiro. A letra fala sobre a saudade do passado, com trechos como “eu sofrendo, querendo meu ex” e “depois de você desandou”.

O jingle faz ainda referência sobre problemas como a crise econômica e o déficit habitacional em “tinha casa, comida, motinha, charanga” e já tem mais de 54 mil visualizações no TikTok.

Para Fratini, a estratégia dos candidatos em produzir conteúdo para o TikTok está relacionada ao público jovem. “O TikTok é uma rede de jovens. Então, é muito assertivo que os candidatos de um modo geral conversem com o público dessa rede”, explica. Nas eleições deste ano, 2,1 milhões de jovens entre 16 e 17 anos estão aptos a votar.

 

Bolsonaro: Sertanejo e mensagem cristã

Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) lançou seu primeiro jingle também em maio, durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais. A música “Capitão do Povo”, um sertanejo interpretado pela dupla Mateus e Cristiano, foi cantada ao vivo no evento que marcou a oficialização da candidatura de Bolsonaro neste domingo (24).

O vídeo já teve mais de 141 mil compartilhamentos no Facebook do presidente. Cortes com o jingle sendo tocado no evento deste fim de semana já alcançam milhares de visualizações no Twitter.

A letra chama o político de “capitão do povo” e faz menção à religião cristã em trechos como “ele é de Deus” e “no Mito eu boto fé”. As bandeiras de costumes defendidas por Bolsonaro, como a menção à família, também aparecem na música.

Para Fratini, a aposta no sertanejo é uma tentativa de conversar com um eleitor ligado ao agronegócio. “O Bolsonaro aposta no sertanejo à medida que o agro é ligado ao gênero musical”, afirma. Ainda por cima, segundo ela, o ritmo é pouco explorado pela esquerda em jingles, apesar de ser muito popular no Brasil.

“A elite intelectual progressista ainda possui pouco conhecimento e preconceito com ritmos sertanejos, o que acaba sendo ruim estrategicamente para os próprios progressistas. Perdem aliados e parecem parte de uma elite pensante arrogante”, explica.

 

Ciro: Forró, pagode e até marchinha

O candidato pelo PDT, Ciro Gomes, tem apostado em diferentes ritmos e já lançou vários jingles. O vídeo com mais visualizações é o “Forró da Virada”, lançado no YouTube no dia 2 junho, e que já foi assistido mais de 1,4 milhão de vezes.

A letra diz que Ciro tem chamado a atenção dos eleitores e defende uma mudança de votos, afirmando que o candidato “se já não é a primeira, é a segunda opção” do eleitor. Ciro aparece em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Lula e Bolsonaro.

Nos outros jingles lançados até agora estão músicas de pagode, com 100 mil visualizações no YouTube, e até marchinha de carnaval, com 22 mil visualizações na rede. Apesar dos bons números, o pedetista tem dificuldade em angariar mais votos.

Fratini explica que Ciro enfrenta barreiras para crescer com a cristalização de Bolsonaro e Lula no topo das intenções de voto. “Sobretudo no campo da própria esquerda, que é o campo a que ele pertence, o principal candidato é o Lula”, afirma a cientista política.

 

Tebet: Força da mulher

As vozes femininas têm sido a principal marca dos jingles lançados até agora pela emedebista Simone Tebet. Pré-candidata com 1% de intenção de voto segundo o Datafolha, Tebet é uma das três mulheres a disputarem o cargo neste ano, ao lado de Sofia Manzano (PCB) e Vera Lúcia (PSTU).

Nos vídeos lançados até agora para apresentá-la ao público, o partido tem apostado em jingles cantados por mulheres, como os “feminejos”. Para Fratini, a senadora precisaria investir mais nas redes para avançar entre os eleitores.

“Ela ainda é pouco conhecida em diversas regiões. É uma das candidatas que precisaria usar esse meio de comunicação a favor dela”, explica Fratini.

O clipe com mais visualizações até agora no YouTube, visto 151 mil vezes, chama Tebet de “a nova esperança do Brasil”. Na letra, a origem da pré-candidata é destacada, assim como o papel feminino na disputa, em trechos como “vem lá do interior”, “a força de uma mulher” e “coragem da guerreira”.

A senadora tem ainda outro jingle com ritmo sertanejo e um samba que defende “ela sim, e eles não”, opondo a candidatura às outras compostas por homens.

 

Bivar: No embalo do samba

Pré-candidato pelo União Brasil, Luciano Bivar lançou seu primeiro jingle no ritmo do samba. A música faz alusão a uma das principais propostas do político: a criação de um imposto único para o país, “com o imposto único todos vão ganhar”. O jingle, no entanto, ainda não teve grande inserção entre os eleitores.

No TikTok de Bivar, os dois vídeos que têm a música ao fundo somam juntos menos de 3.000 visualizações. O político criou a conta no aplicativo em maio deste ano, época em que foi lançado pré-candidato pelo partido. O jingle também tem pouca interação em outras redes, como Instagram e Facebook.

 

Demais candidatos

Os outros presidenciáveis —Sofia Manzano (PCB), Eymael (DC), Vera Lúcia (PSTU), André Janones (Avante), Pablo Marçal (Pros), Leonardo Péricles (UP) e Luiz Felipe D’Avila (Novo)— ainda não lançaram jingles.

 

Para ler na íntegra e assistir aos vídeos dos jingles, acesse: https://www.uol.com.br/eleicoes/2022/07/26/jingles-apostam-em-forro-de-lula-sertanejo-de-bolsonaro-e-mulher-forte.ht

***

 

Conheça o livro:

 

JINGLES ELEITORAIS E MARKETING POLÍTICO
Uma dupla do barulho

Autor: Carlos Augusto Manhanelli
SUMMUS EDITORIAL

 

Partindo da importância do jingle como ferramenta eleitoral, Carlos Manhanelli realiza nesta obra uma análise profunda das músicas de campanha veiculadas nas eleições presidenciais diretas entre 1930 e 2010. De Getulio Vargas a Dilma Roussef, o autor analisa o contexto histórico das campanhas, o perfil dos candidatos e as marcas discursivas das músicas eleitorais dos principais concorrentes.

Entre com seu e-mail para receber ofertas exclusivas do Grupo Summus!

    X