Texto parcial de matéria de Sarah Alves Moura, publicada originalmente no VivaBem │UOL,
em 16/08/2022

 

Quando Angela* tinha 12 anos, seus pais se separaram. A notícia foi uma surpresa, porque o casal mantinha uma relação discreta, sem desentendimentos na frente da filha. Por isso, lidar com a nova realidade não foi fácil, ainda mais quando ela começou a ouvir reclamações da mãe sobre a conduta do pai. Angela ainda não entendia, mas era vítima de alienação parental.

“Meu pai saiu de casa, minha mãe assumiu tudo e acabava falando mal dele. Para mim, ele era um herói, meu tudo”, conta. “Quando eles separaram, tive sofrimento muito bruto, fiz acompanhamento, não conseguia comer, entrei em depressão, porque não tinha mais o meu pai nem a figura dele que acreditava.”

A alienação parental é caracterizada como qualquer conduta com a intenção de afastar o filho de um dos genitores. Ela pode começar com atitudes sutis, como comentários, omissão de eventos na escola e evitar repassar ligações telefônicas e, depois, escalar para comportamentos mais perversos, como a implementação de falsas memórias nas crianças —denúncias mentirosas de abuso sexual, por exemplo.

Mesmo sendo mentira, os danos psicológicos às crianças são sentidos como se a situação tivesse acontecido. Angela sofreu duplamente: pela separação e por se defrontar com uma nova imagem do pai. “Com 12 anos, eu ouvia que ia ver quem era o meu pai de verdade. Aquilo gerava dor”, lembra.

De acordo com a psicóloga Samantha Dubugras Sá, professora da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), a alienação parental pode ser comum após a separação de casais ou até mesmo em relações estremecidas. Isso acontece, em geral, pela dificuldade em separar as frustrações conjugais da parentalidade.

“No momento em que o genitor começa a desqualificar o outro para os filhos, muitas vezes não consegue separar o que é conjugalidade de parentalidade, então utiliza frases que podem parecer sutis, mas têm impacto psicológico”, explica Sá.

 

Campanha contra a reputação

As causas de alienação parental são individuais. Elas podem ter forte relação com o sentimento de luto ao terminar uma relação, e quando ele não é elaborado desencadeia estímulos de raiva e inveja.

Quanto maior o amor, maior é o ódio se essa relação não é trabalhada. Divórcio traz sentimentos próximos ao da morte de um ente querido e a reação dessas pessoas é agir com violência, enquanto outras deprimem. A campanha destrutiva ocorre frente à dor de não lidar com a frustração e ataca-se tudo. Um grande amor virou grande objeto de ódio.

Juliana Toledo Rocha, psicóloga e professora da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).

Personalidades com forte dependência emocional, por exemplo, também podem sofrer mais, por se sentirem abandonadas após o término. A saída, então, é usar o filho contra o outro.

“Muitas vezes, é uma forma de seguir se relacionando com o ex-cônjuge, porque mesmo por meio das brigas a pessoa acaba se fazendo presente. É uma forma de manter, claro, de maneira patológica, o vínculo com o outro”, descreve Sá.

Em alguns casos, no entanto, o processo é fruto de condições psicológicas, como em pessoas com traços narcisistas. Neste caso, a situação tende a ser mais delicada, pela dificuldade em reconhecer os excessos contra a criança e o genitor alienado, além da relutância em aderir ao tratamento.

 

Engajamento inconsciente

Independentemente das razões que a movem, a alienação parental deixa um rastro de impactos. O alienador pode acreditar que adota os comportamentos como uma forma de proteger a criança, mas, na verdade, a priva do convívio importante com o outro cuidador.

Do outro lado, pode ser que o genitor vítima das acusações assuma comportamentos paranoicos, por duvidar se falhou e, inclusive, acreditar —mesmo que não totalmente— nas acusações. Surgem sintomas depressivos que podem progredir para ideações suicidas.

As repercussões negativas se intensificam à medida que mais pessoas se engajam no processo de alienação, geralmente sem saber que as acusações são falsas. “O alienador não comunica que tem apresentação, reunião de pais, e a escola vê um dos genitores sozinho e julga o outro como ausente. Isso pode fazer campanha maior, mesmo que inconscientemente”, explica Juliana Toledo Rocha, também doutora pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Esse engajamento alcança também os filhos, que começam a fazer parte do processo. “A criança apresenta sinais e sintomas evidentes de ojeriza ao ver o genitor afastado. Tem medo, diz que não quer ir visitar, desespera, sofre consequências e até transtorno de ansiedade”, completa a psicóloga.

Por isso, as principais vítimas são as crianças, já que os impactos psicológicos podem causar cicatrizes durante toda a vida —como falta de confiança em si, levando à baixa autoestima, além de maior isolamento e sintomas depressivos.

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Para ler a matéria na íntegra, acesse: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/08/16/alienacao-parental-quais-sao-os-danos-emocionais.htm

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EX-MARIDO, PAI PRESENTE
Dicas para não cair na armadilha da alienação parental
Autora: Roberta Palermo
MESCLA EDITORIAL

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