Foram oito anos convivendo com crises de enxaqueca quase diárias até que um vazio começou a tomar conta da vida da fotógrafa Aline Resende, 29.

As coisas que a faziam feliz, como a leitura, foram perdendo o sentido. E, por mais que tentasse lutar contra, a única vontade que tinha era ficar na cama dormindo ou vagando em seus próprios pensamentos. O que lhe restou foi o medo de encontrar com as pessoas, a vergonha de falar sobre os seus sentimentos e a culpa.

“Tinha apenas 25 anos e sabia que aquele vazio não era normal”, afirmou ela, que, mesmo que tivesse um histórico de depressão na família, se sentia “inatingível”. “Achava que a doença era algo controlável. Engano meu”.

Diagnosticada com depressão, foram seis meses de tratamento psiquiátrico até afugentar o sentimento de vazio e também suas crises rotineiras de enxaqueca.

A associação entre dor crônica e depressão é recorrente. Um estudo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) mostra a relação bidirecional entre ansiedade ou depressão e algumas doenças físicas crônicas.

“Durante todos os anos de enxaqueca era difícil sentir prazer nas coisas. Como sentir prazer diante de uma dor constante?”, questiona a mineira, que se diz hoje feliz e saudável.

Dor crônica, ansiedade e depressão

O levantamento feito na USP mensurou essa relação em pessoas adultas residentes na Região Metropolitana de São Paulo e mostra dados preocupantes.

A dor crônica foi a mais comum entre os indivíduos com transtorno de humor, como depressão e bipolaridade, ocorrendo em 50% dos casos de transtornos de humor, seguidos por doenças respiratórias (33%), doença cardiovascular (10%), artrite (9%) e diabetes (7%).

O estudo mostra que indivíduos com transtornos de humor ou de ansiedade tiveram incidência duas vezes maior de doenças crônicas. “Muitas vezes fica até difícil saber o que vem primeiro.

” Os distúrbios de ansiedade também são largamente associados com dor crônica (45%) e doenças respiratórias (30%), assim como com artrite e doenças cardiovasculares (11% cada). A hipertensão foi associada a ambos em 23% dos casos.

Como aponta Laura, que coordenou o estudo, os dados mostram a necessidade de maior atenção ao tema. “Com esses números precisamos atentar para a necessidade de passar a informação para o médico que está na linha de frente, no atendimento primário.”

De acordo com a especialista, ainda não se sabe por que a relação entre dor crônica e ansiedade ou depressão é tão intensa, já que os mecanismos da dor crônica são pouco conhecidos.

“O que se sabe é que a inflamação é a base tanto para dores crônicas, que inclui alguns tipos de cefaleia, como para os transtornos de humor e ansiedade. Portanto, todos afetam o sistema imunológico do sistema neurológico.”

Tratamento

No caso de Aline, o tratamento foi marcado por seções semanais com o psiquiatra e o ajuste de doses de antidepressivos, que ela toma até hoje, mas apenas por causa da enxaqueca. “Já fiquei um tempo sem os remédios e não tive recaídas da depressão, mas as dores na cabeça voltaram com toda força. Portanto, a recomendação médica foi continuar com o medicamento.”

A psiquiatra explica que os antidepressivos tratam a depressão e, em alguns casos, também a cefaleia. “Isso porque esses remédios contam com um componente chamado de amitriptilina, que combate diretamente as inflamações neurais –base das duas doenças”, aponta.

De volta a uma vida normal e feliz

“Passei a ter uma vida social normal, que muitas vezes era tolhida pelas minhas dores de cabeça. Sem contar que, atualmente, trabalho com muito mais gás e até tenho ânimo para frequentar a academia”, conta Aline, que lembra o estigma que envolve a depressão.

“A gente não tem vergonha de falar que sofre de uma doença no fígado, mas se sente completamente envergonhado de contar que sofre de uma doença mental. A gente não escolhe ter um problema nos rins, e o mesmo vale para a depressão.”

Matéria de Larissa Leiros Baron, publicada originalmente no UOL, 27/07/2017. Para lê-la na íntegra, acesse: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2017/07/27/como-a-dor-de-cabeca-levou-mineira-a-seis-meses-depressao.htm

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Se você quer saber mais sobre dores crônicas, conheça os livros da Summus que falam sobre o assunto:

DORES CRÔNICAS
Um guia para tratar e prevenir
Autores: Kimeron N. Hardin e Ellen Mohr Catalano

Cada um de nós sofre de alguma dor crônica, ou conhece alguém que sofre. Ela pode variar de um simples incômodo até um verdadeiro inferno. Destinado a todos que queiram enfrentar o problema, este guia ajuda a identificar tipos de dor, fatores que contribuem para seu agravamento, e formas de melhorar a qualidade de vida combatendo as conseqüências da dor crônica.

CONTROLE A DOR ANTES QUE ELA ASSUMA O CONTROLE
Autora: Margaret A. Caudill

O problema da dor mobiliza cada vez mais médicos, psicólogos e pesquisadores. Qual é o significado da dor? Que papel ela desempenha? É possível e desejável controlá-la? Estas são algumas perguntas que a autora, uma das pioneiras do estudo da dor, responde neste livro. Ela apresenta um programa de redução e controle de dores crônicas, com resultados comprovados, e fácil de ser seguido, apresentado de forma direta e detalhada. Um precioso instrumento para todos os que sofrem cronicamente de dores. Em formato 21 X 28 cm.

VIVA BEM COM A DOR E A DOENÇA
O método da atenção plena
Autora: Vidyamala Burch

A dor crônica e a doença podem minar a qualidade de vida de quem sofre com elas. Visando orientar tais pessoas, Vidyamala Burch oferece neste livro um método revolucionário para aliviar o sofrimento causado por diversas enfermidades e pelo estresse. Baseada na atenção plena (mindfulness) e na ideia de viver cada momento, ela apresenta técnicas de meditação e respiração profunda que combatem a dor e aumentam a sensação de bem-estar. Prefácio da edição brasileira de Stephen Little, diretor do Centro de Vivência em Atenção Plena e professor da sucursal brasileira da School of Life.

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