Pesquisas apontam menor depressão e risco de demência, além de recuperação física mais rápida

Jim Rendon e Olufemi Terry, WASHINGTON. Reproduzido na Folha de S. Paulo de 13/06/32018.

Aos 85 anos, Claude Copin, uma soldadora francesa aposentada, parece ter descoberto o segredo para viver uma vida longa e saudável. Ela se mantém ativa jogando petanca com amigos em Paris.

E ela os atormenta para apresentá-la a seus filhos, muitos deles adolescentes. Esses adolescentes a levam a festas e filmes, às vezes esquecendo da idade que ela tem.

“Faço minha vida ser bonita. Ainda sou saudável porque tenho minhas atividades e conheço gente”, diz Claude.

Ela está certa. Um número crescente de pesquisas e dados globais coletados e analisados pela Orb Media mostram forte conexão entre a forma como vemos a velhice e a nossa qualidade de vida.

Pessoas com visões positivas da velhice tendem a viver mais e com melhor saúde mental e física do que aquelas com visões negativas.

Os mais velhos em países com baixos níveis de respeito pelos idosos também tendem a apresentar níveis mais altos de pobreza.

Como a taxa de envelhecimento da população está subindo rapidamente em muitos países, uma mudança de atitude poderia trazer benefícios.

Se as tendências populacionais continuarem, em 2050 uma em cada cinco pessoas no mundo terá mais de 65 anos, e quase meio bilhão terá mais de 80 anos.

Surpreendentemente, em um mundo repleto de pessoas mais velhas, as visões negativas da velhice são comuns.

Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde descobriu que 60% das pessoas em 57 países tinham opiniões negativas sobre a velhice.

As pessoas mais velhas são frequentemente vistas como menos competentes e menos capazes do que as mais jovens e consideradas um fardo para a sociedade e as famílias, em vez de valorizadas por sua sabedoria e experiência.

A Orb Media compilou dados de 150 mil pessoas em 101 países para aprender sobre seus níveis de respeito pelos idosos. O Paquistão ficou entre os países que obtiveram as maiores pontuações.

O respeito pelos idosos é uma tradição de longa data no Paquistão, diz Faiza Mushtaq, professora de sociologia no Instituto de Administração de Empresas em Karachi.

Mas, à medida que mais gente se muda para as cidades, estruturas familiares tradicionais tem se rompido. Sem uma rede de apoio do governo, muitos caem na pobreza extrema, diz a professora.

No entanto, ela afirma que há benefícios tangíveis para o respeito à velhice. “É uma maneira muito mais saudável de assumir o processo de envelhecimento, em vez de ter todas as suas noções de bem-estar, beleza e valor próprio ligados à juventude”, diz Faiza.

Com a expectativa de vida mais longa do mundo e baixas taxas de natalidade, o Japão está à frente dessa mudança demográfica global.

A Orb encontrou baixos níveis de respeito pelos idosos no país. Kozo Ishitobi, um médico de 82 anos que trabalha em um lar de idosos, diz que os idosos eram tradicionalmente vistos como um fardo.

“Os japoneses estão começando a perceber que idosos precisam de apoio. Todos nós passamos por isso, então devemos apoiar uns aos outros.”

A atitude de uma pessoa em relação ao envelhecimento tem implicações amplas. Becca Levy, professora de epidemiologia na Faculdade de Saúde Pública da Universidade Yale (EUA), é fascinada pelo poder dos estereótipos sobre idade há décadas.

Ela começou seu trabalho nos anos 90 com um palpite: se os idosos são respeitados na sociedade, talvez isso melhore sua autoimagem. “Isso pode, por sua vez, influenciar sua fisiologia e influenciar sua saúde”, diz Becca.

Nas últimas duas décadas e meia, a professora e pesquisadores que estudaram o assunto descobriram exatamente isso: pessoas com visões positivas sobre a velhice vivem mais e envelhecem melhor.

São menos propensas a ficar deprimidas ou ansiosas; demonstram maior bem-estar e se recuperam mais rapidamente de doenças. São menos propensas a desenvolver demência e características da doença de Alzheimer.

Em um estudo, Becca descobriu que americanos com visões mais positivas sobre o envelhecimento, que foram acompanhados ao longo de décadas, viveram 7,5 anos a mais do que os com visões negativas.

Estudos na Alemanha e na Austrália encontraram resultados semelhantes.

A pesquisa e análise da Orb revelaram que esses efeitos também podem ser vistos entre culturas diferentes. As pessoas mais velhas em países com altos níveis de respeito aos idosos relatam melhor bem-estar mental e físico, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, das Nações Unidas e outros.

Esses países também possuem menores taxas de pobreza entre a população com mais de 50 anos em comparação com jovens do mesmo país.

Parece simples demais: como uma atitude melhor em relação à velhice ajuda alguém a viver mais? Becca descobriu que pessoas com estereótipos negativos sobre idade têm níveis mais altos de estresse, que prejudica a saúde. Aqueles que esperam uma vida melhor na velhice também são mais propensos a se exercitar, comer bem e ir ao médico, diz Becca.

Esse é o caso de Marta Nazaré Balbine Prates, de 57 anos, cuja família se mudou para a casa dos avós em São Paulo, no Brasil, há uma década.

Ela deixou seu trabalho como nutricionista em um hospital para cuidar dos pais (seu pai morreu no início do ano). Foi difícil financeiramente e emocionalmente, mas ela diz que a experiência a fez pensar sobre o tipo de vida que quer para sua velhice. “Procuro cuidar da alimentação, faço atividade física na medida do possível. Quero chegar à velhice em boa condição física.”

Deveríamos estar gratos por nos preocuparmos em envelhecer, diz Marília Viana Berzins. Ela trabalha com idosos no Brasil há 20 anos e fundou a organização não governamental Observatório da Longevidade e Envelhecimento Humano. “A velhice é a maior conquista da humanidade no século passado”, diz ela.

Segundo Marília, “quando a velhice for vista apenas como uma fase da vida, vamos melhorar, e os idosos serão tratados com mais respeito”.

Mudar os estereótipos não é simples. As pessoas criam suas concepções sobre o envelhecimento quando são crianças, diz Corinna Loeckenhoff, professora de gerontologia da Faculdade de Medicina Weill Cornell (EUA), que estuda estereótipos entre culturas.

Infelizmente, as crenças negativas são frequentemente construídas a partir de impressões inexatas.

À medida que as pessoas envelhecem, sua saúde geralmente permanece estável até cerca de cinco anos antes de morrerem, diz Corinna. Só então a maioria das pessoas sofrerá o declínio mental e físico mais associado à velhice.

“As pessoas continuam confundindo envelhecimento com morte”, diz Corinna.

Alguns pesquisadores dizem que o aumento do contato significativo entre jovens e idosos pode derrubar estereótipos negativos.

Nos últimos cinco anos, a Résidence des Orchidées, uma casa de repouso na França, vem tentando fazer isso. Toda semana crianças de uma creche vizinha visitam os moradores. Pierre Vieren, um empresário aposentado de 92 anos, adora ver as crianças.

“Todos acenam para mim para dizer oi. Isso é meu raio de sol pela manhã.”

A diretora da casa de repouso, Dorothee Poignant, diz que a experiência normaliza a velhice para as crianças. “Recria um espírito de família com alegria, crianças rindo, mais velhos rindo”, diz ela. “Não temos apenas idosos: temos crianças, idosos, deficientes. É inclusivo.”

Todo mundo pode sair ganhando com ideias mais positivas sobre a velhice, afirma Corinna. “Você será a vítima ou beneficiário do seu próprio estereótipo à medida que envelhece.”

A Orb Media é uma organização jornalística sem fins lucrativos sediada em Washington, nos EUA. A reportagem original completa pode ser lida no site da organização.

MAIS VELHOS SÃO OS MAIS PREPARADOS, DIZEM BRASILEIROS

Em comparação com os mais novos, são os mais velhos os mais responsáveis, honestos, éticos e dedicados, mostra pesquisa Datafolha que detalhou valores e comportamentos de diferentes faixas etárias.

A cada 4 pessoas, 3 consideram que são os mais velhos que possuem mais essas qualidades. Para 56% dos brasileiros, os mais velhos são também os mais preparados para o trabalho.

Apesar da visão positiva, 90% disseram acreditar que há preconceito contra os idosos no país.

A pesquisa mostrou ainda que 56% dos com 60 anos ou mais estão satisfeitos com seu estado de saúde.

Para ler a reprodução na íntegra, acesse: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/06/em-pais-que-valoriza-a-velhice-idosos-vivem-com-mais-saude.shtml

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Se você tem interesse pelo tema, conheça:

VELHICE
Uma nova paisagem
Autora: Maria Celia de Abreu
EDITORA ÁGORA

Todos nós estamos ou muito em breve estaremos envolvidos com velhos: por sermos idosos, por termos alta probabilidade envelhecer ou porque nossos produtos tendem a ser consumidos por esse público. Por que, então, a velhice permanece um estigma em nossa sociedade?

A fim de mudar essa visão, a psicóloga Maria Celia de Abreu propõe neste livro transformar visões e ideias preconcebidas a respeito do velho. Partindo de estudos teóricos sobre a psicologia do envelhecimento e de vivências colhidas em grupos de estudos, ela propõe que a vida passe a ser encarada como uma estrada que percorre diversas paisagens diferentes – nem melhores nem piores que as outras.

Com exercícios de conscientização e exemplos práticos, a autora discorre sobre inúmeros assuntos pertinentes à velhice, como corpo, sexualidade, memória, perdas, luto e depressão. Fundamental para idosos, seus familiares, cuidadores, pesquisadores.

Prefácio de Mario Sergio Cortella.

 

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