“Pedro, senta direito, menino!”; “João, olha seu tênis desamarrado, você vai cair.”; “Lena, você tropeçou de novo! Olhe por onde você anda!”; “Mariana, você vai ficar com dor no pescoço com todo esse tempo olhando para o celular”.
Frases como essas, que ouço sempre e que, provavelmente, você também já ouviu ou disse, caro leitor, nos apontam para uma questão com a qual temos tido pouco cuidado na atualidade: a relação das crianças e adolescentes com o próprio corpo.
Vamos observar os mais novos um pouco? Vemos crianças correndo sem muita direção e sem se preocupar por onde andam e correm e que, por isso, esbarram uns nos outros e em adultos. Constatamos que não sabem se sentar adequadamente nos diferentes locais que frequentam: da mesma maneira que sentam em casa, relaxados, sentam-se também na escola, no cinema, no restaurante, em qualquer local público, enfim.
E como elas se machucam por levar tantos tombos! Pequenos acidentes poderiam ser evitados com mais organização corporal e maior domínio da relação do corpo das crianças com o espaço por onde circulam.
E os adolescentes? Justamente no período em que o corpo passa por rápidas transformações que exigiriam adaptações graduais, alguns se dedicam a atividades que pouco exigem do corpo, que parece ficar esquecido, e outros exageram nas atividades físicas e até usam suplementos alimentares por causa da dedicação a algum esporte ou em busca de um corpo invejável e cobiçado segundo os modelos que são levados a eles. Isso quando não sentem vergonha de seu corpo!
A habilidade que muitos deles têm nas mãos é uma coisa incrível! Os jovens que jogam exercitam tanto os dedos, que estão conectados com o que eles veem na tela, e chegam a alcançar uma velocidade enorme nos movimentos, tamanha é a coordenação que ganham. Em compensação, a postura corporal global, que adotam quando jogam, em geral não é positiva para a saúde deles, e eles pouco se dão conta disso.
Talvez, devido à informalidade de nosso tempo, estejamos andado desatentos em relação a essa questão corporal dos mais novos. Entretanto, devemos nos ocupar mais disso, porque conhecer o próprio corpo é condição importante para uma saudável relação consigo mesmo, com o ambiente e com os outros. Estar atento às necessidades do corpo, às expressões dele, ao que ele comunica, propicia um melhor desenvolvimento e conhecimento de si e, consequentemente, oferece condições para que o autocuidado seja efetivamente praticado. E como o autocuidado é importante para a vida!
A organização corporal de crianças e adolescentes, porém, não é responsabilidade apenas das famílias. A escola deveria entrar como corresponsável nessa questão. Entretanto, poucas a contemplam em seu planejamento, já que se ocupam exageradamente dos conteúdos escolares. Os pais deveriam perguntar à escola o que ela pratica nesse sentido além de dizer “Senta direito na carteira, menina/o!”.
Pais e educadores que desejam incluir a educação corporal na formação de seus filhos e alunos contam com a valiosa ajuda que o livro “Mapas do Corpo“, de André Trindade, oferece. Nele você vai encontrar, caro leitor, mais do que ideias a esse respeito. Dezenas de atividades que colaboram para a boa postura e para uma harmoniosa relação com o corpo são sugeridas. Boa leitura!
Texto de Rosely Sayão, publicado em sua coluna na Folha de S. paulo, em 16/05/2017. Para acessar na íntegra: http://livraria.folha.com.br/livros/fisioterapia/mapas-corpo-andre-trindade-1353811.html?tracking_number=1411
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Saiba mais sobre a obra, que tem prefácio por Rosely Sayão:
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MAPAS DO CORPO
Educação postural de crianças e adolescentes
Autor: André Trindade
Este livro resume a experiência de mais de 25 anos de André Trindade como psicomotrista e psicólogo. Profundamente ligado à área do movimento, o autor domina magistralmente a arte de orientar crianças e adolescentes a adquirir e manter uma boa postura. Dividida em sete partes, a obra trata, entre outros temas, da linguagem corporal, da pele, dos ossos, músculos e articulações e do que ele denomina “Mapas do corpo” – conjunto de referências capazes de determinar distâncias, direções e ligações entre as partes do corpo, a fim de facilitar o movimento coordenado.
O objetivo de André é que professores – não apenas os de educação física – e pais auxiliem crianças e adolescentes a conhecer o próprio corpo e relacionar-se de modo saudável com o ambiente. Em cada uma das partes citadas o autor, generosamente, compartilha conosco dezenas de atividades para estimular a boa postura, a flexibilidade, a autoconfiança, o prazer da brincadeira. Com reflexões profundas, ele mostra que as novas tecnologias trouxeram muitos benefícios, mas também problemas, como o isolamento, a desestruturação postural e a entrada precoce no mundo adulto. Totalmente ilustrado com desenhos e belíssimas fotografias, o livro é um convite – sem broncas nem lições de moral – para que nós, adultos, repensemos a maneira como lidamos com crianças e adolescentes.