Com muito pesar, informamos que faleceu nesta quinta-feira, dia 13 de outubro, por volta de 18h30, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate. Ele enfrentava um câncer no pâncreas desde abril deste ano. Lutou firme e bravamente contra a doença durante esses meses e se manteve confiante durante o longo e doloroso processo de tratamento.
Desde 1966, quando se formou médico psiquiatra pela USP e foi assistente clínico do Institute of Psychiatry na London University, Flávio Gikovate teve uma certeza sobre sua carreira: nunca se filiaria a escolas ou aceitaria doutrinas acadêmicas.
Isso não quer dizer, claro, que não sofreria influências de vários pensadores. Sua grande fonte de inspiração como escritor, no entanto, em 50 anos de carreira, foram seus próprios pacientes. Cerca de dez mil já passaram pelo seu consultório. Seus livros – 35 publicados – já venderam mais de um milhão de exemplares.
Desde o início da carreira, Gikovate dedicou-se essencialmente ao trabalho de psicoterapeuta. Escrever foi uma forma de transferir conhecimento e ajudar as pessoas a entrarem num ciclo de evolução. E assim ele ficou conhecido: por abordar de forma original, sem subtrair a importância teórica do seu trabalho, as questões e problemas que afligem os relacionamentos pessoais e interpessoais. E fez isso com muito prazer.
As questões sobre sexualidade e amor sempre atraíram Gikovate. Por isso, foi um dos pioneiros no Brasil a publicar trabalhos nessas áreas. Seu primeiro livro, lançado em 1975, é um clássico. E, nesses mais de 48 anos de vida como escritor, sua maior preocupação sempre foi manter a coerência de pensamento e de argumentação.
Gikovate se preocupava e levava a sério seu compromisso social. Foi conferencista solicitado tanto para atividades acadêmicas como para as que se destinam ao público em geral. Além de colaborar muitos anos com revistas e jornais brasileiros de grande circulação, ele participou de diversos programas de televisão.
Em 2010, aceitou o convite do amigo Silvio de Abreu e encarou o desafio de atuar na novela Passione, da TV Globo, interpretando ele mesmo. A motivação para integrar um elenco de novela foi a mesma que sempre permeou sua carreira: divulgar a profissão para o maior número de pessoas possível.
Antes de adoecer, apresentava o programa “No divã do Gikovate”, gravado no teatro Eva Herz da Livraria Cultura Conjunto Nacional, em São Paulo, com a participação do público, semanalmente, todas as terças-feiras. Sempre participativa, a plateia lotava os 150 lugares do teatro a cada evento. O programa completou nove anos em agosto de 2016. Em 2012, recebeu o prêmio APCA, na categoria rádio variedades.
Gikovate nunca deixou de fazer aquilo em que acreditava. Entre 1982 a 1984, aceitou um convite que gerou grande polêmica na época. Em plena era da democracia corinthiana, encarou o desafio de comandar o time psicologicamente.
Entre as obras de sua autoria, estão: Dá pra ser feliz… Apesar do medo; O Mal, O Bem E Mais Além; Uma história do amor…Com final feliz; Nós, os Humanos; Ensaios sobre o amor e a solidão; Homem: o sexo frágil?; A Liberdade Possível; Uma nova visão do amor; Cigarro: um adeus possível; Deixar de Ser Gordo; Sexo; Sexualidade sem Fronteiras; Mudar– Caminhos para a transformação verdadeira; Gikovate além do divã – Autobiografia. Todos publicados pela MG Editores.
Em 2009, lançou a versão em espanhol de “Uma história do amor…Com final feliz”, pela editora colombiana Panamericana Editorial. O livro também ganhou versão em inglês, ao lado de “O Mal, o bem e mais além – Egoístas, generosos e justos”.
“Para ser feliz no amor” foi seu último livro. O lançamento aconteceu na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, no dia 13 de setembro, com palestra.
Ao lado do amigo nos últimos momentos, Silvio de Abreu deu a seguinte declaração poucas horas depois do falecimento: “Eu acho que o Brasil perde uma grande inteligência, de um homem extremamente preparado para o trabalho que fazia. Um homem que influenciou a cabeça de muitas pessoas importantes no país. Um homem que teve a humildade de colocar o seu trabalho de uma maneira muito mais popular, atendendo pessoas pelo rádio e divulgado seus livros, passando suas ideias. E fazendo isso sempre com muito respeito pelo trabalho e pelas pessoas. Hoje o Brasil perde um grande profissional. Eu estou perdendo um grande amigo”.
O editor do Grupo Editorial Summus, Raul Wassermann, que publicou a maioria dos seus livros, também falou sobre Gikovate: “Nestes muitos anos de convivência com esse importante autor de nossa editora tornei-me amigo e admirador de Flávio. Ele nos deixa e fica um grande vazio, mas sua memória será perene.”
Gikovate deixa a esposa, Cecília, e filhos. Ele será cremado em uma cerimônia simples e reservada à família e aos amigos próximos.