Saiba como a prática oferecida pelo SUS pode ajudar no envelhecimento ativo e colaborar no tratamento de doenças relacionadas à terceira idade

A sala principal não estava muito cheia quando a terapeuta ocupacional Flávia Kaori Kanegava apareceu. Algumas pessoas estavam espalhadas pelo jardim e outras assistiam à televisão. Mas, bastaram poucos minutos para que ela reunisse todas em uma grande roda. Muitas vieram por iniciativa própria, enquanto aquelas que resistiam, aos poucos, foram cedendo até se juntarem à maioria. Seja em suas cadeiras de roda ou no sofá, em pouco tempo, estavam todos atentos para que estava prestes a começar.

“É para cantar bem bonito”, disse dona Olinda. E assim o fizeram. Ao som de “Como é grande o meu amor por você”, de Roberto Carlos, era possível ouvir as vozes de quase 30 senhores e senhoras, residentes do Cora Residencial Sênior, uma Instituição de Longa Permanência para idosos, onde a musicoterapia passou a fazer parte da rotina dos hóspedes.

Envelhecer melhor

A prática não tem muito a ver com entonação ou aulas de canto. A ideia é mais voltada à colaboração direta para o envelhecimento ativo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática estimula a fala, aumenta a criatividade, movimenta o corpo, exercita a memória, reduz sintomas de depressão e age na prevenção de doenças associadas ao aumento de idade e início de doenças crônicas.

“Por desenvolver aspectos cognitivos, como atenção, concentração, memória, organização e planejamento, os exercícios com música são bastante completos, já que a parte física também é trabalhada”, explica Flávia.

Reabilitação

Antes de começar o coral, a terapeuta ocupacional incentiva os idosos a fazerem exercícios vocais, e depois pede para que eles cantem, com o auxílio da letra – impressa e entregue a cada participante. No meio da aula, ela troca de música e, ao som de “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, os sorrisos começam a brotar na sala e o balanço dos corpos fica impossível de ser contido.

Porém, a agilidade de seus corpos já não é a mesma. Os movimentos, sutis, são feitos de seus assentos, com um gingado tímido, mas encorajados pela profissional. “Aqui o objetivo é estimular o cérebro e os movimentos, ainda que singelos, ajudam muito. Temos vários pacientes com demência causada por Alzheimer ou AVE [acidente vascular encefálico] que passam a ficar afásicos com o tempo, mas quando a música toca vejo que eles conseguem participar da atividade de um jeito bem mais natural, colaborando para a reabilitação”, explica Flávia.

A profissional também aproveita o encontro semanal para resgatar memórias provocadas pelas canções escolhidas, sendo esse um outro jeito de desenvolver a atividade cerebral, segundo ela.

“Tem gente aqui que não consegue saber que horas são. Mas, quando a música toca, todo mundo participa. É uma coisa que todos gostamos. Eu gosto porque ajuda a me lembrar do meu tempo de solteira, quando era menina”, contou dona Joice Seabra, de 92 anos.

Quem também reconhece os benefícios da musicoterapia não só para o corpo, mas também para a mente e o coração é dona Viviana Papni, de 97 anos. “Sinto muitas saudades quando escuto as músicas. Lembro-me de quando estudei piano, lembro-me de tudo com muito carinho”.

Doenças

Além de provocar a sensação de bem-estar, maior facilidade em se expressar, reduzir o estresse e melhorar as condições físicas, um estudo comandado pelo Instituto Max Planck de Neurociência e Cognição Humana de Leipzig, na Alemanha, conseguiu comprovar também que, uma vez que a música está relacionada às emoções mais profundas, as letras e as melodias são raramente esquecidas por pacientes com Alzheimer, por exemplo.

Essa constatação também pode ser percebida no documentário “Alive Inside”, produzido nos Estados Unidos, que mostra a atividade sendo capaz de fazer com que o cérebro de pacientes com Alzheimer ficasse mais ativo depois de terem que lidar com canções conhecidas, fazendo com que respondessem melhor a estímulos após a terapia.

Além disso, pessoas portadoras de doenças como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, autismo, ou que sofreram acidente vascular cerebral (AVC) são beneficiadas com a prática, conforme constatam outras pesquisas.

SUS

Diante de tantas vantagens, a atividade foi incorporada recentemente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Desde janeiro deste ano, outras terapias como meditação, reiki e quiropraxia são oferecidas gratuitamente à população.

Para saber onde encontrar o local adequado onde as sessões de musicoterapia são aplicadas e participar, é preciso entrar em contato com a secretaria de saúde do seu estado ou cidade.

Matéria de Marina Teodoro, publicada originalmente no iG, em 26/07/2017. Para acessá-la na íntegra: http://saude.ig.com.br/2017-07-26/musicoterapia-idosos.html

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Quer saber mais sobre musicoterapia? Conheça os livros da Summus:

MÚSICA E SAÚDE
Autora: Even Ruud

Compilação de textos das conferências do Congresso de Musicoterapia (Oslo, 1985). Especialistas internacionais mostram as ligações entre a musicoterapia e outros campos do conhecimento, como a neurologia, a percepção corporal e a semiótica. O leitor encontra aqui reflexões e métodos sobre as diferentes formas de trabalhar com música em terapia.

CAMINHOS DA MUSICOTERAPIA
Autora: Even Ruud

Este livro pretende esclarecer as relações entre a musicoterapia e os diferentes caminhos existentes na área da saúde mental e observar como estes diversos procedimentos estão vinculados a tendências filosóficas distintas.

TEORIA DA MUSICOTERAPIA
Contribuição ao conhecimento do contexto não-verbal
Autor: Rolando Benenzon

A musicoterapia é uma técnica que explora a relação entre emoções e música dentro de um processo terapêutico. Neste livro, o Dr. Benenzon esclarece os fundamentos teóricos da musicoterapia, contribuindo para a orientação na formação de musicoterapeutas em nível universitário.

O DESPERTAR PARA O OUTRO
Musicoterapia
Autora: Clarice Moura Costa

A partir de um embasamento teórico e de casos clínicos, a autora traça os objetivos e os limites da proposta psicoterápica apoiada na música. São mostradas as possibilidades de restauração dos processos de sociabilização e as reações dos pacientes.

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