Entre 2012 e 2015, os recursos destinados à capacitação de professores caíram 67,8% no país, de acordo com o jornal “O Estado de São Paulo”. Com a redução do investimento, houve uma queda de 26% no atendimento aos professores. Segundo a reportagem, todas as modalidades de curso perderam alunos, mesmo os de Ensino a Distância (EAD). Também cursos semipresenciais passaram a ser na modalidade EAD. Outros cursos foram descontinuados, como a Redefor – Rede de São Paulo de Formação de Docentes.
Considerando nossos baixos indicadores de aprendizagem e ainda o fato de mais de 40,8% dos professores da Educação Básica não serem formados na disciplina que lecionam (conforme o Censo Escolar de 2014) esses dados são realmente preocupantes. Temos afirmado que a qualidade da nossa educação tem relação direta com a qualidade de nossos professores. Diversos estudos nacionais têm apontado as deficiências do professor, destacando a importância fundamental de uma mudança tanto na formação inicial do professor como na formação continuada e em serviço (dentro da escola), assim como na implantação de planos de salários e carreira condizentes com a importância da função docente.
No momento em que diversos países discutem a importância da educação ao longo de toda a vida, é assustador pensar que um estado como São Paulo reduza o investimento no maior ativo da educação, que é o professor.
A conhecida revista britânica “The Economist” colocou como capa de sua edição de meados de junho o tema “como fazer um bom professor”, desmitificando as vocações ou soluções mágicas e enfatizando a importância da profissionalização docente. Segundo a publicação, é fundamental que os professores adquiram experiências de sala de aula e possam contar com escolas e instituições que tratem sua formação com rigor e possibilitem o seu contato com os colegas e a comunidade. A revista cita um estudo americano que demonstra que em um único ano os professores tidos como os 10% melhores impactam três vezes mais a aprendizagem dos alunos que os 10% piores.
Em outra edição, a mesma revista apresentou um dossiê sobre inteligência artificial, destacando o papel da educação diante das novas tecnologias e demonstrando tanto a importância de um ensino adaptativo de acordo com as características e níveis de cada aluno, como o fato de que a educação ao longo da vida é uma realidade. Nesse contexto, o aprender continuamente, o reaprender e a atualização de novos conteúdos são dimensões mais importantes do que o aprofundamento de um tema ou disciplina.
No entanto, a predominância de cursos curtos ou mais rápidos no mundo contemporâneo não significa que a educação básica perdeu sua importância. A ênfase dada à necessidade de uma sólida fundamentação nas habilidades de letramento e matemática é considerada como condição ainda mais vital para apropriação constante de novos conhecimentos.
A educação continua ainda é um desafio na sociedade contemporânea. Em um país como o Brasil, onde ainda não alcançamos níveis básicos na qualidade da aprendizagem de nossas crianças e jovens, negligenciar a formação dos professores é um risco de não só não avançarmos nos indicadores como comprometermos ainda mais as atuais e futuras gerações.
Estamos arriscando o futuro do país.
Artigo de Maria Alice Setubal, publicado no UOL Educação em 19/07/2016. Para acessá-lo na íntegra: http://educacao.uol.com.br/colunas/maria-alice-setubal/2016/07/19/o-impacto-de-bons-professores-no-aprendizado-dos-alunos.htm
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PROFISSÃO DOCENTE: PONTOS E CONTRAPONTOS
Organizadora: Valéria Amorim Arantes
Autores: Sonia Penin, Miquel Martínez
Partindo da premissa de que o trabalho docente se dá nos emaranhados de um contexto social e institucional, Sonia Penin, diretora da Faculdade de Educação da USP, e Miquel Martínez, diretor do Instituto de Ciências da Educação da Universidade de Barcelona, trazem elementos e perspectivas que enriquecem a análise da referida temática.