Matéria de Luíza Tiné, publicada originalmente
no Blog da Saúde│UOL VivaBem, em 14/08/2019.
Nem sempre os pais levam a sério quando escutam que o filho não se concentra na sala de aula. Mas você sabia que isso pode ser TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade)? Esse transtorno é neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a vida e se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
Segundo a ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção), o distúrbio afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar e sua prevalência é maior entre os meninos. Uma das características mais fortes da síndrome é a dificuldade para manter o foco nas atividades e a agitação motora, o que podem prejudicar o aproveitamento escolar.
Na prática, isso significa “questões relacionadas à leitura e escrita, queixas escolares, dificuldades no reconhecimento de algumas palavras, em alguns casos, atraso de fala na compreensão e na decodificação das palavras. O desempenho acadêmico, por exemplo, não é equivalente a uma criança de sua idade e isso implica no seu desenvolvimento”, explica a fonoaudióloga Luiza Aline Monteiro, da Meic (Maternidade Escola Januário Cicco), vinculada à UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e à Rede Ebserh. “Dependendo do apoio que a criança ou adolescente recebe, eles terão mais, ou menos, problemas”, completa.
Se o TDAH for entendido como um transtorno do neurodesenvolvimento, é possível compreender que existem diferenças entre o cérebro de uma criança com TDAH e outra que não tem. “A incapacidade de resposta ao estímulo tem uma relação com circuitos neuronais, que é associado com o córtex pré-frontal, ou seja, muitas vezes a pessoa pode ter o quadro comportamental nítido, mas tem também esse impacto neurológico nesse transtorno”, afirma Rachel Schlindwein-Zanini, neuropsicóloga do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina e vinculado à Rede Ebserh.
O córtex pré-frontal localizado em nosso cérebro tem maior impacto em crianças com TDAH. Essa é uma parte importante, que tem a função de autorregulação comportamental. É por meio dele que se desenvolve a concentração, controle de impulsos, memória operacional, planejamento, flexibilidade cognitiva, autorregularão emocional, tomada de decisão e conscientização. “Uma parte normal importante para o crescimento”, complementa a neuropsicóloga.
Para Monteiro, compreender o desenvolvimento do córtex pré-frontal contribui para o progresso das funções. A criança e o adolescente com esse distúrbio têm dificuldade de compreender as coisas, por isso, é preciso reforços de profissionais. “Quando a gente faz uma leitura, automaticamente a gente faz construção de imagem. Já a criança com TDHA tem essa dificuldade, por conta disso, uma consequência óbvia é que ela terá comprometimento de leitura e escrita” explica.
Diagnóstico
A neuropsicóloga conta que muitas pessoas não se atentam ao diagnóstico de TDHA por falta de informação. “De modo geral, o diagnóstico é multidisciplinar, a criança deve ser atendida por um neuropsicólogo, neurologista, psiquiatra ou psicólogo clínico, fonoaudiólogo e pode também ter uma colaboração outros profissionais”, explica.
Para efeito de diagnóstico, é preciso observar os sintomas que se manifestam ainda na infância, antes dos sete anos e em pelo menos em dois ambientes diferentes (casa, escola, lazer), durante, no mínimo, seis meses. Normalmente o problema fica claro nos primeiros anos de escola, apesar de estar presente desde o nascimento.
Tratamento
A intervenção nesses casos prevê uma atuação que envolva familiares, escola e criança. A multidisciplinariedade é prevista em casos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, com o envolvimento de profissionais como psicólogo, médico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional. Quando orientado, o tratamento deve ser medicamentoso, além de contar com a equipe da USF (Unidade de Saúde da Família), que poderá garantir melhores progressos no tratamento do paciente.
Schlindwein-Zanini explica que, quando se tem um atendimento multidisciplinar, os resultados surgem rapidamente. “Quando esse trabalho é feito, a comunicação melhora, a criança amplia seu vocabulário, suas possibilidades, além disso, melhora a organização de pensamento e da compreensão do transtorno”, conta.
Outro destaque é para a realização das atividades que devem ser feitas em um período curto. “É preciso promover jogos e atividades lúdicas, com atividades que gerem prazer para criança e não podem ser muito longas, justamente pela dificuldade de atenção à criança. Ela precisa compreender o seu transtorno”, reforça a especialista. Segundo ela, as essas atividades curtas ajudam as crianças a se organizar no tempo dela. “A organização também precisa ser trabalhada e as crianças respondem muito bem a isso com estímulo, é importante elogiar e mostrar que elas estão evoluindo”, finaliza.
Para ler na íntegra, acesse: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/08/14/tdah-transtorno-aparece-na-infancia-e-acompanha-a-pessoa-por-toda-a-vida.htm
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TDAH E MEDICALIZAÇÃO
Implicações neurolinguísticas e educacionais do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Autoras: Rita Signor, Ana Paula Santana
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Esta obra representa uma significativa contribuição a um debate que tem mobilizado pais, educadores, estudantes e profissionais de saúde: o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e a medicalização da educação. Medicalizar significa transformar aspectos de ordem social, pedagógica, cultural e afetiva em doença (transtorno, distúrbio). Partindo dessa realidade inquietante, Rita Signor e Ana Paula Santana mostram os problemas de deixar de lado o contexto social e a história de cada criança ao avaliá-la, apontando o papel da formação dos profissionais (de educação e saúde) na produção do chamado TDAH. Seguindo esse entendimento, as autoras questionam a qualidade do ensino no Brasil, o excesso de diagnósticos voltados ao campo educacional, os testes padronizados da área da saúde, o crescente consumo de medicamentos e as políticas públicas, entre outros fatores que legitimam o fenômeno da medicalização. Amparadas na perspectiva sócio-histórica, refletem sobre essas e outras questões neste livro corajoso e pioneiro, que conta também com dois estudos de caso que comprovam que a afetividade do educador e o trabalho interdisciplinar na escola podem mudar o futuro de muitos adolescentes e crianças.